22 de jan. de 2020

ANSEIOS LUSITANOS
















   “Porque eu sou do tamanho do que vejo
     E não do tamanho da minha altura...”

                                           Alberto Caeiro









A instauração do Quinto Império no mundo, numa vindoura alvorada de névoa, é um Sonho português. Ou, melhor dizendo, um Sonho que foi entregue aos portugueses.


Tratando-se de um sonho, o importante não será explicá-lo e, muito menos, dissecá-lo e racionalizá-lo, mas, simplesmente, sonhá-lo. E, ao fazê-lo, perceberemos que se converte em algo muito mais real do que aquilo que chamamos de realidade.


O processo português encontra-se repleto de sonhos e de mitos sonhados que se transformam, misteriosa e hermeticamente, em verdades profundas, porque não se inscrevem na História factual, positivista, que conhecemos, mas em algo misterioso que a transcende. Então, em vez de História, poderemos chamar-lhe Fado[1] ou Destino.


“Desejo ser um criador de mitos, que é o mistério mais alto que pode obrar alguém da humanidade “[2], escreveu Fernando Pessoa, que também disse que “o mito é o nada que é tudo”[3], porque o método em questão trata de fazer real o que, aparentemente, é irreal, convertendo-se, assim, no motor do referido processo português.


Não tem a ver, portanto, com uma facticidade causal, demarcada no tempo e interpretada parcialmente, mas com uma História compreendida globalmente, isto é, como ideia ou projeto final. Ali, passado e presente não se separam e ainda se lhes junta um fabuloso “saque ao futuro”, todos irrompendo no “aqui e agora”, permitindo visualizar, em toda a sua dimensão, a génese, a atualidade e o corolário de um Destino que, neste caso, é o império do Espírito ou o Quinto Império.


Um filósofo indiano dos nossos dias, Sri Nisargadatta Maharaj diz que “é a ilusão do tempo que nos faz falar em causalidade. Quando o passado e o futuro se encontram no “agora” atemporal como partes de um modelo comum, a ideia de causa-efeito perde a validade e a liberdade criativa ocupa o seu lugar. “ [4] Mas atenção, esta “liberdade criativa” não significa falsidade histórica, muito pelo contrário, porque respeita à visão do espírito sobre o mundo real, que se situa muito para além da análise e das classificações da mente.


Somos o que não somos”, dizia Fernando Pessoa e tal afirmação integra-se na invenção bem portuguesa de “uma lógica paradoxal de estirpe heraclitiana onde o tudo e o nada são reversíveis e intercambiáveis. Fazer-se ausência, teatro-nada por onde se fazem presentes os ausentes, os que foram, os que não são e os que serão. (...) A excessividade portuguesa é, assim, uma excessividade do nada, um desejo voraz de ausência, aceitando o ser como uma grande ficção vazia, como um grande teatro vazio pelo que passam todos os que foram e serão, real ou imaginariamente. Por isso, o um e o múltiplo, identidade e alteridade se fazem indistinguíveis; por isso, o um e o absoluto, o indivíduo e o todo, se unem, e a despersonalização literária, a máscara trágica, encontra-se presente e redime. Tudo concernente a uma nova religiosidade pagã, a uma refundação mítica da existência ligada ao profetismo e ao messianismo. E tudo nascido de uma estirpe muito particular de idealismo, um idealismo saudoso, um desejo do impossível na terra, uma imposição da eternidade à vida. ” [5]


No século VI antes de Cristo, Heráclito de Éfeso[6] já falava de um mundo em mudança ou em perpétuo movimento, assumindo a unidade dos contrários e, desse modo, antecipando ou abrindo passo ao conceito de “somos o que não somos”, de Pessoa; a esse propósito, também Friedrich Nietzsche reconhecia que “Heráclito terá eternamente razão ao dizer que o ser é uma ficção vazia. O mundo “aparente” é o único; o mundo “verdadeiro” não é mais do que um acrescento mentiroso. “ [7]


A história do mundo está cheia destes “acrescentos”, ou é mesmo uma manta de retalhos por eles constituída e grande parte da humanidade, cansada do aparente e do efémero, vagueia, desconsolada e sem rumo pelo que considera o deserto da existência.


O método de aprendizagem utilizado pelas Ordens Iniciáticas, dividido por vários Graus, constitui um bom exemplo para se entender a relatividade material e temporal entre a interpretação dos chamados “factos históricos”, ou entre História e Destino. Naquela outra escala iniciática, uma verdade num Grau poderá ser o seu oposto num Grau superior, porque o entendimento, entretanto, se alargou e a visão sobre a mesma matéria ganhou uma outra perspectiva. Ou seja, através de várias “verdades e inverdades” relativas, se constrói um caminho de consciência em direção a uma verdade maior e cada vez mais autêntica, que também poderemos chamar de Destino. E acrescente-se que, do meu ponto de vista, essa Verdade/Destino também é, essencialmente, Poesia...


Sabemos, hoje, que Fernando Pessoa pertencia a uma Ordem Iniciática. Rompendo a sua reserva habitual em relação a esta matéria e como que pretendendo deixar esclarecida a sua posição, oito meses antes de morrer escreveu uma declaração em que se afirmava “Iniciado, por comunicação direta de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal. ” Esta declaração foi escrita à mão, pelo próprio punho do poeta e por ele assinada, com a data de 30 de março de 1935.[8]


Também na epígrafe do seu poema “Eros e Psique ” [9] transcreve a seguinte passagem do Ritual de Mestre do Átrio na Ordem Templária de Portugal: “...E assim vedes, meu Irmão, que as verdades que vos foram dadas no Grau de Neófito, e aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade. “


E igualmente suas são estas palavras: A iniciação maçónica — que é uma iniciação do primeiro nível — é dada através dos rituais e dos símbolos; os discursos que acompanham o ritual nada conferem. Uns são propositadamente simples e triviais, para que o candidato, se é apto e digno, se vire d'eles para a parte vital do grau; outros são propositadamente confusos e contraditórios, para que obriguem o candidato, se nele há alma iniciática, a meditar, escolher, e, por fim, achar. “ [10]


Digamos, então, que muitos textos sobre a História de Portugal, nomeadamente de Fernando Pessoa, a começar pela sua “Mensagem”, são, afinal, relatos iniciáticos, destinados a proporcionar, a quem possa ler para além da beleza e do génio poético-literário, uma visão de conjunto do Destino do povo português.


Tenho para mim que este sonho ou visão do Quinto Império corresponde ao vértice superior de um triângulo místico que representa a nossa mais profunda Identidade. Coloco na base, como suas Colunas ou suportes, dois movimentos ímpares, genuinamente portugueses: o Saudosismo e o Sebastianismo, intimamente relacionados entre si, pois, como dizia Pessoa, “o saudosismo está criando a base intelectual e moral ao sebastianismo, puramente popular. ” [11] Mais adiante, se desenvolverá o teor destes dois movimentos que conduzem ao Sonho quinto imperial.


Devo esclarecer que, embora o Sonho tenha sido entregue aos portugueses, que o transportam na alma, acredito que os outros povos ibéricos sejam, de algum modo, co-responsáveis pela sua realização no mundo. Aliás, creio firmemente que a Ibéria, toda ela, é um caso à parte da Europa, com um papel único e exclusivo a desempenhar na génese do Quinto Império, tal como explanarei mais tarde.


Deste modo, é muito gratificante verificar que outros autores ibéricos conhecem bem a alma lusitana e, à sua maneira, se alinham com ela. Creio ser o caso do filósofo e investigador espanhol Pablo Javier Pérez López[12] e do artigo denominado “Historia y Destino: el fatalismo como identidade nacional lusa”, já citado anteriormente, e onde confirma que “em poucos povos encontramos uma encarnação tão profunda do fatalismo como no povo português. Nele, o diálogo, aparentemente paradoxal entre mito e história, entre história e destino, entre liberdade e profecia, apresenta-se como um lugar propício para nos questionarmos sobre a facticidade do histórico e as perplexidades metafísicas que ali se ocultam. “ [13]


E ainda: “A imposição da eternidade à vida, o império do Espírito, a superação do tempo, são fios essenciais do tecido da alma portuguesa. A história compreendida como trans-história, superando as fronteiras entre passado, presente e futuro através da ontologia saudosa, e a proximidade entre lenda, narração, mito, epopeia e história, são chaves para uma abordagem ao fatalismo português e ao diálogo prodigioso entre história e destino, que nos é oferecido por este povo filho do mar, da loucura e da aliança com a morte. A aceitação da vida como tragédia e, por conseguinte, como literatura, converte a história numa narração viva enraizada na consciência de um povo que decidiu esquecer as fronteiras entre verdade e mentira, memória e esquecimento, ciência e poesia, história e mito, para aceitar o destino coletivo de sonhar desperto eternamente. “ [14]


No entanto, se há quem, por fora das nossas fronteiras, compreenda profundamente os meandros da génese imperial, dentro delas nem tudo fluiu do mesmo modo.
De fato, para os autores portugueses que se ativeram unicamente ao positivismo da História e àquilo que a mente concreta considera “realidade”, o Quinto Império e as suas bases saudosistas e sebastianistas, não representam sonho algum, mas sim um pesadelo tresloucado, alimentando a ilusão doentia de uns quantos desiquilibrados; isto é, para a dialética material racionalista, o fenómeno em causa assenta na mais deplorável irracionalidade.


                    “Uma expressão metafórica da persistência desesperante do reino da estupidez ”, foi como António Sérgio classificou o sebastianismo. Anteriormente, já outros autores ilustres, como Lúcio de Azevedo, se haviam referido à “mania mansa dos sebastianistas” [15], que colocavam no mesmo saco da “aberrante maluquice, peculiar de escassa data de alienados pacíficos”, como também lhe chamou Sampaio Bruno[16]. Recentemente, António da Costa Lobo refere o “desconcerto da razão, manifestado pela morbosa alucinação do sebastianismo.”[17] 


Enfim, muit    Enfim, muito mais haveria a dizer, mas, em síntese, penso que nenhum conseguiu ver o extraordinário golpe de asa proposto por Fernando Pessoa, separando e distinguindo o sebastianismo histórico-popular primário do sebastianismo espiritual, de que o anterior constituiu, apenas, “um esgar e assomo. “ 


Nessa interpretação que, para mim, coincide com o Sonho original, Fernando Pessoa desvela a figura do Encoberto, que não é outro senão o Cristo Redentor descrito pelo evangelista João no Apocalipse[18], e aclara o objetivo final da missão Lusíada, que consiste na preparação do mundo para aquela Segunda Vinda.


U              

Sempre me emociono quando leio na “Mensagem” [19] passagens como esta, escrita (e lida) com “os olhos rasos de água”:


 S                                      "Só te sentir e te pensar
     Meus dias vácuos enche e doura.
     Mas quando quererás voltar?
     Quando é o Rei? Quando é a Hora?

  Quando virás a ser o Cristo
  De a quem morreu o falso Deus,
  E a despertar do mal que existo
  A Nova Terra e os Novos Céus?

  Quando virás, ó Encoberto,
  Sonho das eras português,
  Tornar-me mais que o sopro incerto
  De um grande anseio que Deus fez?" 
[20]


Eduardo Lourenço ainda tenta explicar que “O Portugal-D.Sebastião de Pessoa é todo-o-mundo-e-ninguém, como ele, Pessoa-D.Sebastião, é ninguém-e-todo-o-mundo, um e outro a “eterna criança que há-de vir”, aquele que morre como particularidade nacional ou pessoal, para ser tudo em todos, exemplo de um mundo e de uma personalidade sem limites nem fim. Esse D. Sebastião-Pessoa não anuncia mais que um império cultural sem imperialismo de culturas nem de verdades, mero espaço de absoluta liberdade de cultuar as múltiplas e inconciliáveis “verdades”, que, na ausência definitiva de Deus, nos servem de simulacros plausíveis e implausíveis do verdadeiro. Assim, o que começou como um sonho de um império redivivo termina com Pessoa em império de sonho. “ [21]


No entanto, esta conclusão não me parece justa para o Sonho. Na verdade, creio, até, que tudo sucedeu ao invés, isto é, que foi o Sonho quem sonhou um Fernando Pessoa grandioso, para tornar universal o conceito e dar um novo e enorme alento a uma nação que, igualmente, foi criada para o realizar na face da Terra. Por isso, a este propósito, fico-me, também, com os versos de Sophia de Mello Breyner Andresen:


"Peço-te que sejas o presente.
Peço-te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a terra
Em Primavera feroz precipitado."[22]


 É da ação dos portugueses, preparada no espaço peninsular em que se inserem, conjugando-se com os outros povos vizinhos e detendo como objetivo comum o surgimento daquela “Primavera” no mundo, sob a égide do Cristo Encoberto, que trata, essencialmente, este Evangelho da Ibéria.


                           *** 
                                      

Antes de me lançar nesta aventura da escrita, li e reli inúmeros trabalhos, ensaios e investigações acerca do Quinto Império e outras tantas teses sobre as suas componentes saudosistas e sebastianistas. Devo confessar a minha admiração por alguns autores e o meu distanciamento de outros, mas, de uma forma geral, penso que a alma portuguesa já foi suficientemente dissecada e psicanalisada e que, agora, aquilo que mais precisa é saltar do sofá e sentir de novo o salpicar das ondas, o sol e as estrelas a descartarem horizontes e o vento a segredar que a pátria portuguesa é um ser espiritual...


Concordo que o sebastianismo também poderá ser “a vida imaginária portuguesa quando o abismo entre a realidade do seu ser histórico e o seu destino ideal e moral nos aparece como intolerável. ” [23] Como, igualmente, refletir “a manifestação histórica, ao mesmo tempo positiva e negativa, da ruptura desse equilíbrio entre a vida real e imaginária, sintoma da desordem causado pela nostalgia da ordem. “ [24]  Mas, na verdade, de que adiantam esses e outros brilhantíssimos diagnósticos se não existir, depois, uma porta aberta para continuar o Caminho? Porque, a meu ver, o que está em causa, é um Caminho que continua por fazer e, ainda que comece sempre por dentro de cada um, poderá, também, ser concreto e tangível, como o foram as Descobertas do passado, que não ficaram encerradas em discussões palacianas nem se fizeram nos mapas, mas sim nos mares, explorando, corajosamente, o Desconhecido.


Claro que os referidos estudos nos poderão ajudar a conhecer melhor o processo, mas, por mais notáveis que sejam, não se movem a si mesmos do mesmo lugar nem promovem quaisquer outras Descobertas porque, muito simplesmente, não entram nas suas cogitações. Em última análise, são construções mentais e a mente não é o guia mais aconselhável nesta questão do Sonho espiritual, porque atua em função de si mesma e do seu racionalismo impiedoso, não reconhecendo qualquer outro tipo de percepção. Portanto, a mente só poderá pronunciar-se com argumentos mentais e chegar a conclusões mentais, quando o cerne desta questão fundamental se encontra muito para além do plano mental.


A Sabedoria Tradicional, ainda rejeitada pelo Ocidente, mas que integra a cultura do Oriente há milhares de anos, afirma que o Homem possui uma constituição sétupla, ou composta por sete planos sobrepostos, como as várias camadas de uma cebola. Na base, encontra-se o corpo físico envolvido pelo etérico, fonte da vitalidade; num plano acima, a componente astral, sede das emoções e sentimentos mais comuns, seguida pelo mental concreto, ou aquela zona que identificamos como “mente”. Estas quatro primeiras camadas definem a personalidade, ligada ao triângulo de cima, que estabelece a individualidade do ser. No primeiro vértice da base, está a faixa a que os indianos chamam “Manas” ou “uma outra mente num plano superior” e que, correntemente, é ignorada pela soberba da anterior. No seguinte encontra-se “Buddhi”, sede do que chamamos Intuição e onde se situa aquele estado que chamamos de Coração (não o órgão físico, evidentemente, mas todos aqueles Sentimentos superiores e mais nobres do ser) e, finalmente, no plano mais elevado de todos, “Atman”, o espírito puro.


Por aqui se tem uma ideia clara de onde os orientais situam a mente – no meio da escala –, a mesma mente que os ocidentais, deslumbrados pelas suas façanhas intelectuais, colocam no topo.


Swami Chidananda, um renomado iogue e autor de vários livros, diz que “a vida é mais do que um mero processo físico e biológico, ou a sucessão de estados mental-intelectuais e suas atividades. A vida é o desenvolvimento e a manifestação da Realidade interior, o despertar e experiência do verdadeiro “Eu”. Isso é VIDA. Tudo o mais é mera sombra, uma pálida imitação, uma insípida anomalia de vida. “ [25] E a sua opinião concorda com a de muitos outros autores, apontando a mente incontrolada como o principal obstáculo no caminho para a divindade. [26]


Sri Nisargadatta, já citado anteriormente, afirma que “a mente, pela sua própria natureza, limita, divide e opõe. Para encontrar a outra mente (Manas[27]), haverá que pôr fim ao processo mental, tal como o conhecemos. Quando este termina, nasce aquela mente inclusiva (Manas ligada a Buddhi[28]). Essa outra é amor em ação, batalhando contra as circunstâncias, inicialmente frustrado, mas finalmente vitorioso. Entre o espirito e o corpo, é o amor que proporciona a ponte. A mente cria o abismo, o coração atravessa-o. “


E ainda: “A mente acontece-me a mim, eu não aconteço à mente. E uma vez que o tempo e o espaço estão na mente, eu sou mais além do tempo e do espaço, eterno e omnipresente. A fonte da consciência não pode ser um objeto na consciência. Conhecer a fonte é ser a fonte, reconhecer-se como o próprio ser e tornar-se, assim, na Possibilidade Inesgotável. “ [29]


Creio que somente essa Possibilidade dará resposta aos anseios lusitanos de longa data, que muitos trazemos por dentro. De novo recorro aos versos de Sophia:


"Que adeus é este adeus que me despede
E este pedido sem fim que o vento perde
E esta voz que implora, implora sempre
Sem que ninguém lhe tenha respondido?..."[30]


A resposta terá sempre que vir de dentro e começará quando formos, realmente, aquela fonte e encararmos o inesperado, vivermos o imprevisível...


 Tudo isso num primeiro assomo e arrepio de Liberdade!


Só então poderemos contatar com a nossa própria Tradição e retomar a senda dos mistérios do Cristo Encoberto e do Quinto Império, ultrapassando os abismos criados pela mente. Então, o Sonho se transformará num Caminho[31] essencialmente interno, mas que poderá deter uma vertente externa, pois o Quinto Império, na sua componente temporal, necessitará de estruturas na face da Terra[32]; no entanto, aquele Caminho, que logo reconheceremos como profundamente verdadeiro, não será isento de estorvos e dificuldades de toda a ordem, pois as várias oposições ali estarão, também, a cumprir o seu papel. Implacavelmente.


Sendo assim, para podermos responder aos nossos mais profundos anseios e colaborar na missão Lusíada, teremos, antes de tudo, que ser senhores de nós mesmos, completos e conscientes, contando com todos os nossos instrumentos de percepção, mente concreta incluída; uma mente regenerada e purificada, limpa da sobranceria e da obstaculização dos outros planos, trabalhando ao seu nível como o utensílio precioso que realmente é.



Mas o guia será sempre o Coração.









[1] Deriva da palavra latina “Fatum” que significa “aquilo que está escrito”, em termos de predição ou vaticínio. Liga-se, pois, ao Destino, sendo conhecida a expressão “Amor Fati” (utilizada também por Nietzsche) como “amor do (ou ao) destino”, ou “amor fadado”, no sentido de que tudo que sucede na vida é uma passagem obrigatória ou necessária. No entanto, o “Fado” que, em português, também significa “profecia”, “sorte”, “predeterminação”, não será irreversível como o “Destino”, porque contempla a possibilidade de ser modificado pelo próprio.
Segundo Zecharia Sitchin, os Anunnaki também utilizavam essa terminologia, distinguindo o Fado, imposto, mas reversível, do Destino.  
Fernando Pessoa escreveu no artigo «O FADO E A ALMA PORTUGUESA: Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflete o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste. O fado, porém, não é alegre nem triste. É um episódio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter força para o desejar. As almas fortes atribuem tudo ao Destino; só os fracos confiam na vontade própria, porque ela não existe. O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e também o abandonou. No fado os Deuses regressam legítimos e longínquos. É esse o segredo sentido da figura de El-Rei D. Sebastião».
[2] Acervo Biblioteca Nacional de Portugal [BNP/E3-20-73].
[3] In “Mensagem”, poema Ulisses, Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934 (Lisboa: Ática, 10ª ed. 1972).
[4] In “I am That”, 1973
[5] In Pablo Javier Pérez López, « Historia y Destino: el fatalismo como identidad nacional lusa »Diacronie, N° 8, 4, 2011.
[6] Heráclito nasceu em Efeso, cidade da Jonia, na costa ocidental da Asia Menor (atual Turquia) no ano 545 a.C..
[7]O Crepúsculo dos Ídolos”, publicado pela primeira vez em 1889.
[8] In Obra poética e em prosa, Vol.3, Fernando Pessoa, org. António Quadros e Dalila Pereira da Costa, Porto: Lello & Irmão, 1986.
[9] Publicado inicialmente na revista Presença, números 41 – 42, maio, 1934.
[10] In Pessoa Inédito. Fernando Pessoa. (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes) Lisboa: Livros Horizonte, 1993.
[11] In “Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa” (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979. 
[12] Entre outros livros, escreveu “Poesía, Ontología y Tragedia en Fernando Pessoa”, Editorial Manuscritos, 2012.
[13] In Diacronie, N° 8, 4/2011.
[14] In Diacronie, N° 8, 4/2011.
[15] A Evolução do Sebastianismo, Lisboa,1918, Editorial Presença 1984.
[16] In O Encoberto, 1904, Lello &Irmão, 1983.
[17] In As Origens do Sebastianismo, edições Rolim, Lisboa,1982.
[18] Também conhecido como Livro das Revelações, é o último libro do Novo Testamento e da Bíblia cristã.
[19] O único livro de Fernando Pessoa publicado em português durante a sua vida, em 1934.
[20] Poema sem título, escrito em 10-12-1928 e integrado na Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934 (Lisboa: Ática, 10ª ed. 1972).
[21] In “Portugal como Destino”, Editorial Gradiva, Lisboa, 1999.
[22] In “Coral”, Editorial Caminho, Lisboa 2005.
[23] In “Portugal como Destino”, Editorial Gradiva, Lisboa, 1999.
[24] Idem
[25] Citado por Ramiro Calle in “La Sabiduría de los grandes Yoguis”, editorial E.l.a., 2019
[26]  Râmakrishna não duvida que muitos dos “chamados eruditos são pomposos e pretenciosos. Falam de Brahma, de Deus, do Absoluto, de Jñana-Ioga, de filosofia, de teologia, e de outros temas, mas são muito poucos os que experimentaram ou vivenciaram, em si mesmos, aquilo de que falam. Por isso, são áridos e insensíveis, e não conseguem repartir nenhum bem. “
[27] Parêntesis fora do texto original
[28] Idem
[29]  In “I am That”, 1973.
[30] Sophia de Mello Breyner Andresen, “Coral ”, Editorial Caminho, Lisboa 2005.
[31] E o Caminho já é a meta...

[32] Daí a missão ter sido encomendada aos portugueses, peritos em “dar novos mundos ao mundo. ”