20 de ago. de 2019

A CONSPIRAÇÃO DE ALMOUROL


























Para mim, tratou-se, sem dúvida alguma, de uma conspiração.

E pode dizer-se que os Templários nela participaram...

Pelo menos, foi num dos primeiros e mais bonitos castelos templários de Portugal que tudo começou: Almourol, erguido numa pequena ilha no meio do rio Tejo e muito perto de Tomar, onde se situava a sede da Ordem Templária de Portugal.


 Devo dizer que me sinto um ser privilegiado, mas não especial, pois a estratégia em questão ocorreu sem a minha intervenção consciente, limitando-me a reagir às solicitações respetivas. E depois, inesperadamente, surgiu o Amor, que tomou conta de todo o processo...


Mas retomemos a narrativa.

O castelo de Almourol foi conquistado por D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, em 1129 e depois entregue a Gualdim Pais, então o quarto Mestre da Ordem do Templo no nosso país.

No entanto, a história assinala que, antes de ser conquistado pelos cristãos, o castelo era muçulmano e chamado Al-morolan. Portanto, também se poderá dizer que os mouros e os seus segredos lendários, terão, igualmente, contribuído para aquela conspiração nas águas do rio Tejo ...

Refira-se que as mitologias do noroeste da península ibérica, nomeadamente do norte de Portugal, da Galiza e das Astúrias, ainda denominam de “Mouros” ou “Moros” a determinados seres mágicos, guardiões de tesouros e construtores de megálitos, que dizem viver em zonas desconhecidas debaixo da terra, e que raramente interagem com os humanos.

Terão aberto uma exceção em Almourol?

Recordando melhor o que se passou, lembro-me que o barqueiro que inicialmente me conduziu ao castelo e que, nas vezes seguintes, nunca mais pude encontrar, me fitou de forma arrepiante quando entrei no seu pequeno barco a remos, mantendo aquele olhar fixo em mim durante todo o percurso, sem pronunciar uma palavra, nem mesmo para responder às minhas perguntas, o que deveras me incomodou; sobretudo, porque o seu olhar pouco ou nada tinha de humano...


Sem mais delongas, passo a explicar que me encontrava no castelo de Almourol a filmar uma versão da sua lenda, destinada à Televisão Portuguesa. O guião descrevia que um cavaleiro andante que passava na margem do rio, descobria na praia do castelo uma formosa mulher a banhar-se nas águas do Tejo e logo se enamorava dela. No entanto, a mulher, que era a Senhora do castelo, estava guardada por um gigante, que a defendia contra todos que pretendiam conquistá-la, e aos seus domínios. Por isso, o cavaleiro apaixonado não teve outro remédio senão atravessar as águas e enfrentar o gigante. Depois de uma luta terrível e de resultado incerto quase até ao final, acabou por derrotá-lo. Mas logo o seu destino ficou traçado: desse dia em diante, o cavaleiro ocuparia o lugar do seu adversário, passando a defender a Senhora e o seu castelo contra todos os perigos e assaltos forâneos.

Desconheço a origem desta lenda mas parece-me evidente uma sua leitura, ao nível simbólico-tradicional: a Dama representa a Alma e o castelo, com as suas incalculáveis riquezas, o Espírito, encerrando o caminho para um determinado Conhecimento a que somente se acede depois de duras provações, incluindo o risco de vida. Seria esse o verdadeiro Tesouro (porventura consignado em páginas secretas de livros perdidos), custodiado pelos “Mouros intraterrenos” e pelos iniciados Templários, também eles conhecedores dos mistérios em causa e que se tornaram em zelosos guardiões dos caminhos que a eles conduziam.

Como aquele que, para mim, inocentemente, se iniciou em Almourol...

Não sei, ao certo, o que ali se passou, mas no dia em que terminámos o filme, a minha vida mudara para sempre, pois também eu ficara enamorado da Princesa do castelo... Devo acrescentar que, no meu caso, tal fato nada tinha de simbólico, mas era literal e maravilhosamente verdadeiro: reconheci na Princesa a minha alma gémea e essa descoberta veio a ser coroada com cinco filhos mágicos!

No entanto, para que tudo se cumprisse como prescrito, também eu não podia deixar de enfrentar o gigante... E logo ali se iniciou um combate que não foi célere nem fulminante, como na lenda ou no filme, mas que se estendeu pelos anos fora, numa refrega sem quartel a que também se chama vida.

Desconhecendo, à partida, as implicações e consequências do processo desencadeado, fui-me dando conta que aquela luta intensa e dramática respeitava simultaneamente ao Tesouro espiritual dos “Moros”, ou à Obra misteriosa guardada pelos Templários nos subterrâneos do castelo...

Tratava-se de uma luta pelo Amor e pela Consciência.

Frente a uma força muito superior à minha, só podia tentar aparar os golpes e recuar. Por vezes, aconteciam pausas para retomar o folego, mas logo as espadas se cruzavam de novo, com maior violência ainda.

Em cada assalto recuava mais e mais.

Até que percebi que estava a ser empurrado numa direção determinada, passando através de vários cenários e de momentos da vida tão mágicos como o havia sido Almourol. E foi num desses locais, em plena serra de Sintra, que recebi o golpe mais formidável de todos.

Sucedeu no lugar da Peninha e a potência nele empregue rasgou a carne e soltou o espírito, deixando-me tombado sobre uma grande rocha. Estava vencido e tudo teria acabado ali mesmo, mas algo misterioso surgiu em cena e fez paralisar a ação, deixando aquele momento em suspenso no espaço-tempo.



... ... ...



Não sei explicar o que se passou naquela descontinuidade temporal, nem quanto durou. Quando dei por mim e abri os olhos, não havia adversário à vista e, a custo, procurei recompor-me do tremendo abalo sofrido. Todo o meu corpo tremia, mas o meu raciocínio era estranhamente lúcido e fluía em catadupas de informação, muito para além da mente. Foi como se tomasse conhecimento de zonas desconhecidas do meu corpo, por fora dos seus limites físicos.

Demasiado comovido para ficar atónito, percebi que a violência extrema do golpe havia alterado a noção que tinha de mim próprio. Mas não só: havia rasgado uma espécie de cortina temporal à minha volta, abrindo uma fenda naquele presente e deixando à mostra um caminho que haveria de percorrer no futuro, com a minha Princesa de Almourol.

E que, de novo, tinha a ver com a travessia de águas.

Não seriam mais águas de rio, nem haveria barqueiros disponíveis, humanos ou mouros; do que se tratava agora seria o mar, o mesmo que banhava os pés daquela fascinante serra de Sintra.

Na verdade, encontrava-me um pouco acima do Atlântico, junto ao cabo da Roca, o ponto mais ocidental da Europa, e por aquele mar adentro se estendia o caminho vislumbrado, unindo a serra de Sintra a uma outra serra misteriosa, no continente americano. Sabia qual era pelo nome e por visão, mas só muito mais tarde a conheci diretamente, ao percorrer o interior do Brasil e chegar a Minas Gerais.

A Obra que me contactou em Almourol, através dos seus intermediários “moros” e templários, propunha-me estender o combate com o gigante através de um longo e árduo caminho, ligando dois lados do mundo, até me deixar na frente do seu Portal maior, onde tudo se decidiria.

Era a proposta final da conspiração.

Num relance, soube de imediato que aquela outra montanha de Minas Gerais representava efetivamente a continuidade e o encerramento do mistério de Almourol. Percebi, então, que deveria conduzir a minha Princesa àquele mesmo destino, que, afinal, não lhe seria estranho nem desconhecido, pois outro não era que o lar que lhe pertencia há tempos sem fim. Como no final de um conto de fadas, poderíamos, então, tomar posse dos Tesouros ocultos no interior da montanha e que eram precisamente os mesmos que haviam sido sugeridos no início de tudo, num pequeno castelo templário no meio do Tejo, a muitos sonhos de distância.

Tudo isto, evidentemente, em caso de vitória, pois ainda havia um gigante pelo meio...

No entanto, mesmo que eu fosse derrotado, o caminho proposto entre os dois continentes e as duas montanhas teria sido aberto e ficaria, no mínimo, assinalado, assim como seria reforçada a construção da ponte espiritual entre Portugal e o Brasil, objetivos primordiais a serem alcançados. Quer isto dizer que, qualquer que fosse o resultado do último combate, aquela Obra hermética sairia sempre a ganhar...

Apesar da imensidade do plano e da desproporção das forças envolvidas, a proposta pareceu-me justa.

Sim, porque, no caso mais provável de ser vencido, eu teria tido a oportunidade de viver a maior aventura que um ser humano pode aspirar: a tal luta audaz e dedicada pelo Amor e pela Consciência; e se, desta vez, não conseguisse atingir o objetivo, ficaria mais perto de o conseguir numa próxima tentativa. Portanto, mesmo perdendo, ficaria igualmente a ganhar.

Desse modo, por mais inapto ou despreparado que me sentisse, estava internamente pronto para iniciar a demanda. E sabia que teria que dar tudo por tudo para corresponder ao propósito da insigne conspiração de “Moros” e Templários...

Lembro-me de ter fechado os olhos para confirmar a decisão.

E de ter sorrido, depois.