10 de dez. de 2011

O LUME DE ASTORGA ("Prisciliano Ressuscitado" - Capítulo 6)





















       "Pelos anos 440, os fogos maniqueus e priscilianistas que incubavam na Galiza, avivavam o lume em Astorga."

Jacques Fontaine, "História da Igreja"

As labaredas de Astorga, que ardem sem serem vistas, resultam da presença  de uma força telúrica, especialmente actuante nalgumas zonas da catedral de Santa Maria, e que poderá inspirar quem com ela se alinha; mas a maior parte dos visitantes disso não dá conta, porque a sua própria racionalidade comprometida se encarrega de lhes dizer que tais coisas não existem...

No entanto, a própria Ciência se interessou pelo caso, a ponto de uma Associação de Estudos Geobilógicos, de âmbito internacional (GEA) , haver promovido umas jornadas de investigação do fenómeno, que decorreram no ano de 1995, em plena catedral.

Esta catedral gótica de Santa Maria de Astorga assenta sobre as bases de uma outra catedral românica que, por sua vez, poderá ter sido elevada sobre outras construções anteriores. Outrora, terá existido ali, ou em alguma outra zona da povoação romana inicial, uma pequena igreja que, no século IV, foi sede episcopal dos bispos priscilianistas Simpósio e Dictinio.

Como se viu, o priscilianismo privilegia a Natureza e, sendo um gnosticismo, valoriza, acima de tudo, a experiência interna, o contacto directo de cada um com o seu interior, ou com o interior do corpo maior da Natureza. Por isso, o lume e o priscilianismo passaram a confundir-se um com o outro e, no rematar do mesmo século, a própria Astorga se converteu num ícone da heresia.

 A Igreja bem tentou restabelecer a ortodoxia e extinguir o lume, mas como se apaga um fogo do espírito?... A verdade é que, ainda hoje, permanece aceso e ilumina uma das mensagens mais contundentes transmitidas por uma catedral gótica.


ASTORGA

A cidade bi-milenar de Astorga situa-se no norte da Ibéria, em pleno Caminho de Santiago e pertence, actualmente, à província espanhola de Castilla y León. Originalmente, fazia parte da província romana da Gallaecia e os seus fundadores, no século I a.C., deram-lhe o nome de Astúrica Augusta, posteriormente descrita por Plinio como "magnífica". Não longe da cidade, ergue-se o maciço do Teleno, um monte que os astures, seus primeiros habitantes conhecidos, consideravam sagrado, bem como os romanos, que lhe chamaram Mars Tilenus e donde extraíam ouro.

Astorga é ainda capital de uma nebulosa região histórico-cultural denominada Maragateria. Os estudiosos têm debatido a origem dos Maragatos, com inúmeras interpretações mas, ao certo,ainda ninguém sabe donde vieram e como se fixaram nesta região, que acabaram por tomar como sua.

Ao longo dos séculos, e para além dos notáveis bispos priscilianistas atrás citados, cruzaram as muralhas de Astorga figuras tão díspares da história do mundo como o conde Henrique de Borgonha, pai do primeiro rei de Portugal, bem como Napoleão Bonaparte e ainda, presumivelmente, Pôncio Pilatos.


PILATOS

A figura enigmática de Pôncio Pilatos, descrita pelo Antigo Testamento, surge igualmente citada pelos cronistas Flavio Josefo e Filo de Alexandria, bem como pelo historiador romano Cornelio Tácito.

Em 1961, foi descoberta em Israel uma lápide que corrobora de um outro modo a existência histórica de Pôncio Pilatos como prefeito da Judeia. De difícil leitura, pelo estado deteriorado em que se encontra, pode perceber-se, no entanto, que pertencia a um templo edificado em honra de "Tibério e dedicado por Pôncio Pilatos, prefeito da Judeia, ao povo de Cesareia".

Por outro lado, alguns investigadores modernos, como o P. Garcia Cordero, citado por Esteban Celada, asseguram que o pai de Pôncio Pilatos era um general romano que esteve deslocado ao serviço do império em Astúrica Augusta; ou melhor, sediado num  campo fortificado, ocupado pelas legiões romanas que lutavam nas guerras cantábrico-astúricas, e que acabou por dar origem à cidade. Segundo eles, à data do nascimento de Pilatos, seu pai encontrava-se ali mesmo, na futura Astorga.






















 Segundo os defensores dessa teoria, os altos cargos militares romanos que ficavam longe de casa por largas temporadas, podiam levar as mulheres consigo. Portanto, não se trataria de uma simples suposição que, no ano do nascimento de Pôncio Pilatos, seu pai se encontrasse em Astúrica Augusta e, muito provavelmente, com a sua mulher...

Claro que nada disto constitui prova indubitável, do ponto de vista histórico e cientifico, de que Pôncio Pilatos tenha nascido em Astorga, mas admite e aponta para que essa seja uma inesperada possibilidade.

Como é do conhecimento histórico, Pôncio Pilatos, considerado justo e piedoso por uns e cruel e sanguinário por outros, ocupou durante dez anos (desde 26 ao 36 d.C.) o cargo de Praefectus Judeorum (Prefeito da Judéia), sujeito à jurisdição e à autoridade de Lúcio Vitélio, governador da província romana da Síria.

Muito se tem conjecturado sobre o seu papel no julgamento de Jesus mas, ao certo, nada se sabe. Partindo do princípio de que as Escrituras cristãs relatam a verdade, então Pilatos foi o responsável por uma outra decisão fundamental, ocorrida na sequência do martírio: a pedido de Nicodemus e de José de Arimatéia, (discípulos secretos de Jesus, curiosamente com uma boa relação com o Prefeito romano), autorizou que o corpo do Mestre fosse retirado da cruz antes do tempo legalmente previsto; isto é, que fosse descido no final da mesma tarde em que foi crucificado, em vez de continuar pendente no madeiro durante os três dias fixados pela lei.

Esta permissão para a retirada do corpo foi vital para o Mistério que ali decorria e, como tal, deveria ficar registada como a decisão mais importante de Pilatos, em vez da sua discutível e fraca imagem a lavar as mãos no julgamento... Se tal episódio foi verdadeiro, então Pôncio Pilatos terá cumprido um papel importantíssimo no processo de Jesus, mesmo que com pouca ou nenhuma consci~encia dos factos.

Anos mais tarde, Pôncio Pilatos foi acusado, perante Lúcio Vitélio, de um massacre de samaritanos ocorrido no monte Garazim, no ano 35. O governador da Síria destituiu-o do cargo e enviou-o de volta para Roma, a fim de dar contas do seu mandato.

O imperador de então já não era Tibério, amigo e protector de Pilatos, mas Calígula, o que equivalia à certeza de uma condenação. Não existem dados precisos sobre o que se passou, mas alguns autores presumem que Pilatos acabou por ser exilado para a Gália (a actual França), onde terá terminado os seus dias.

No entanto, outros admitem que, face ao risco de uma condenação mais pesada, por parte de Calígula (que, inclusive, poderia ser a pena de morte), Pôncio Pilatos tenha fugido durante a viagem para Roma e optado por se refugiar na Península Ibérica, mais concretamente em Astúrica Augusta.

 Aliás, se realmente lá houvesse nascido e, porventura, ainda ali vivessem os seus pais, não faria mais do que voltar para casa...


HENRIQUE

É um nome marcante na História de Portugal. Assim se chamava o Infante de Sagres, responsável pelo envio das naus portuguesas pelos mares fora, como lápis de Deus a desenharem um novo mapa da Terra. E, nos primórdios de todo esse processo, também foi o nome daquele nobre da Borgonha chegado à Ibéria para governar um território mágico que esteve na origem de Portugal, tendo sido pai do primeiro rei Afonso Henriques (ou filho de Henrique).

Pois este Henrique, que foi Conde de Portucale, chegou a ser, igualmente, Senhor de Astorga... O que significa que o respectivo lume esteve presente e activo nos primórdios da formação de Portugal, podendo ter acalentado as primeiras ideias independentistas entre pai e filho, ainda que somente concretizadas, mais tarde, pelo jovem Afonso Henriques.

D.Henrique (quarto filho de Henrique de Borgonha, bisneto de Roberto I de França, sobrinho da rainha Constança de Leão e sobrinho-neto de santo Hugo, abade de Cluny), veio para a Península Ibérica no século XI, com seu primo Raimundo, para servir o rei de Leão e Castela, Afonso VI, na reconquista da Galiza aos mouros Almorávidas. Em Fevereiro de 1095, D. Henrique já se casara com D. Teresa, filha do monarca leonês que, reconhecido, lhe concedera, também, a posse do Condado Portucalense (futuro reino independente de Portugal). Mais tarde, e fruto da política de alianças com os herdeiros desavindos de D. Afonso VI, foram também parar-lhe às mãos os domínios de Astorga.


Um facto menos conhecido relativo ao Conde D. Henrique é que foi precisamente em Astorga que terminou os seus dias,pois ali morreu a 24 de Abril de 1112. Como pai do primeiro rei lusitano e patriarca da nação, o seu túmulo encontra-se, actualmente, na Sé de Braga, em Portugal.

Fernando Pessoa dedicou ao Conde D. Henrique o quinto poema da Mensagem:

"Todo começo é involuntário.
Deus é o agente.
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.

À espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
"Que farei eu com esta espada?"
Ergueste-a, e fez-se."


NAPOLEÃO

Quando Napoleão Bonaparte entrou em Astorga ( que, com escassos recursos defensivos, acabou por capitular), ia em perseguição do exército inglês do general Moore, em retirada para a Corunha. Era o dia 1 de Janeiro de 1809.

Não se sabe quanto tempo Napoleão pretendia ficar em Astorga porque, logo após a conquista, ali recebeu a notícia de que a Aústria se preparava para a guerra, alterando-lhe os planos e obrigando-o a regressar a Paris. Partiu no dia 3, depois de entregar o comando daquele exército ao general Soult.

Porventura as duas noites que Napoleão passou em Astorga não terão sido suficientes para reconhecer e sentir a influência do lume que ali continuava a brilhar; ou então, já não havia fogo que valesse a quem havia voltado as costas à sua verdadeira missão, confundindo as chispas superficiais da vaidade mundana e do poder temporal com o verdadeiro lume do espírito.

Segundo relata a Tradição, Napoleão havia sido iniciado no Egipto, aquando da sua estadia entre 1798 e 1801, onde comandou uma campanha militar que se converteu numa expedição científica, abrindo as portas do ocidente à egiptologia.

Nessa iniciação, ter-lhe-á sido recordada, e finalmente entregue, a missão para a qual havia nascido: levar os ideais mais nobres da revolução francesa - Liberdade, Igualdade e Fraternidade - a todos os povos europeus, sujeitos à opressão e à tirania de coroas absolutistas ultrapassadas. É claro que quando Napoleão colocou, ele próprio, a coroa de imperador na sua cabeça, comprometeu todo o processo, precipitando o seu colapso e o falhanço daqueles outros objectivos - ainda que muitos altos ideais tivessem perdurado e influído, depois, nas leis fundamentais de muitos países.

Por isso as chamas de Astorga viram Napoleão partir e ficaram a arder sozinhas; que longe se estava da cumplicidade e da sintonia com os bispos priscilianistas Simpósio e Dictinio!...















SIMPÓSIO

Era bispo de Astorga quando Prisciliano irrompeu na Galiza, defendendo os valores do cristianismo primitivo contra uma Igreja que perdera a magia e fora corrompida pelo poder. Simpósio aderiu àquela mensagem, que cada vez mais se entranhava na alma do povo e da terra e, unindo o fogo interior do priscilianismo ao lume inspirador que brotava na sua própria cidade, fez de Astorga um farol da heresia.

A sua posição face à ortodoxia da Igreja foi claramente assumida no ano 380, em pleno concílio de Saragoça, que se reunira exclusivamente para condenar Prisciliano. Em sinal de protesto, logo no primeiro dia abandonou os trabalhos.

Passados cinco anos, a execução impiedosa de Prisciliano em Tréveris, por uma Igreja cada vez mais controladora e, a partir daí, sanguinária, tê-lo-á feito repensar a sua posição pública. Simpósio adoptou, então, uma política de compromisso, ou de co-habitação ambígua com a hierarquia da Igreja, ocultando as suas crenças e valores internos (de forma moralmente legítima, segundo o pensamento expresso pelo seu filho Dictinio) e passando a alinhar-se, externamente, com a ortodoxia.

Pactando esse alinhamento com o todo poderoso Ambrósio, patriarca de Milão, garantiu Simpósio a sua continuidade como bispo de Astorga. Do acordo fazia parte a renúncia às leituras e citações dos escritos apócrifos, tão caros aos priscilianistas, bem como o abandono das celebrações relativas aos mártires de Tréveris (que, apesar de tudo, Simpósio continuou a chamar de "mártires"...) e ainda a garantia de que o mesmo Simpósio jamais ordenaria bispo o seu filho Dictinio, que,na altura, era presbítero.

No entanto, o povo e o clero da Galiza, que continuavam profundamente tocados pelo lume priscilianista e participavam activamente na vida das suas comunidades religiosas, não quiseram saber de acordos palacianos e impuseram a eleição de Dictinio. Por isso, Simpósio, "obrigado pelo povo", consagrou o seu filho como o novo bispo de Astorga, passando ele mesmo para a Sé de Ourense. Mais ainda: declarando-se "pressionado pela maioria das gentes de toda a Galiza", nomeou também vários outros bispos priscilianistas para as Sés vacantes, como foi o caso de Paterno, para Braga, e de Isonio, não se sabe ao certo para onde.

 O que se sabe sim, ao certo, é que o pacto de Milão, que Simpósio estabelecera com Ambrósio, fora, escrupulosamente, atirado às malvas!

A reacção da hierarquia da Igreja não se fez esperar e, sob o comando à distância do mesmo Ambrósio e do novo papa Siricio, convocou Simpósio de Astorga e os seus para responderem em capítulo conciliar, na cidade de Toledo.


DICTINIO

Ainda jovem, deslocara-se a Tréveris, a mando de seu pai, para resgatar os corpos dos mártires, trazendo-os de volta à Galiza. Mais tarde, já como bispo de Astorga, o inteligente, activo e brilhante Dictinio, veio a tornar-se no grande herdeiro espiritual de Prisciliano.

Foi ainda o primeiro autor galego de que há memória, pois escreveu a "Libra"("Balança"), como um tratado de moral priscilianista que fez furor no seu tempo mas do qual, infelizmente, não restou qualquer exemplar. Sabemos da sua existência e do forte impacto que causou pelas referências totalmente negativas que lhe dedicou santo Agostinho na sua obra "Contra Mendatium" (Contra a Mentira), escrita precisamente para refutar o bispo de Astorga.

Como se disse atrás,  Agostinho refere que os priscilianistas juravam a inviolabilidade dos segredos do grupo, utilizavam santo e senha para se reconhecerem e consideravam lícito mentir para proteger a sua existência.

Mas porque teriam os priscilianistas adoptado esse comportamento?... Não seria porque o seu amado líder e os discípulos mais próximos haviam sido decapitados, os seus bens confiscados, e outros bispos e clérigos, que lhes eram fiéis, perseguidos e torturados?... Não seria porque Dictinio e os seus viviam em perigo constante, ao pertencerem a uma igreja que abençoava com as mãos sujas de sangue e que, de um momento para o outro, também lhes podia cortar a cabeça?... Foram estas razões que santo Agostinho se esqueceu de mencionar no seu "Contra Mendatium"!

Mas se santo Agostinho se tivesse realmente preocupado em escrever um tratado sobre a mentira, teria que começar por referir as fraudes, embustes e falsificações cometidas pela Igreja do seu tempo, como a truncagem e a alteração deliberada dos textos sagrados, levada a cabo por Irineu e outros santos (hoje em dia absolutamente comprovada), com o único propósito de justificar e aumentar o poder da Instituição.

O profundo secretismo dos priscilianistas, imposto pelo próprio Prisciliano, praticado por Simpósio e, finalmente, desenvolvido e sistematizado por Dictinio, vinha da mesma linha do mitraismo, que lhe era tão afim, e das outras religiões de Mistérios da antiguidade, cujos iniciados eram sujeitos a juramentos exclusivos; um secretismo idêntico foi adoptado pelo judaísmo e continua a ser utilizado por todas as associações iniciáticas, maçónicas ou políticas do nosso tempo.

Uma conhecida canção portuguesa aflora e ilustra, do ponto de vista sentimental, a razão desta prática sem idade, ao afirmar que "contigo aprendi uma grande lição: não se ama alguém que não ouve a mesma canção"...

Por isso, a ética proposta por Dictinio baseava-se no princípio hermético de que a verdade só devia revelar-se a quem de antemão a aceitava, para que ficasse salvaguardada uma harmonia de base e uma pré-sintonia com a mesma "canção", reduzindo ao mínimo os riscos de fissura no corpo comum. É o que significa também a conhecida expressão ocultista: "quando o discípulo estiver preparado (ou a vibrar em sintonia com a energia em causa), surge o Mestre (ou a revelação da verdade)".

Por outro lado, Dictinio tomava como máxima a expressão "jura perjura secretum tradere noli" ("jura, comete perjúrio, não traias o segredo") que, continuando no domínio do mais puro hermetismo, era também uma regra básica de sobrevivência e de vida em clandestinidade. Tudo isto, porque a lição brutal da morte de Prisciliano não havia sido esquecida, motivando o reforço e o desenvolvimento de práticas antigas.

Creio ter sido com este espírito que Dictinio e seu pai Simpósio se apresentaram no concílio de Toledo onde, sem qualquer rebuço de moral social, abjuraram das suas convicções priscilianistas.

TOLEDO

Um guerreiro do espírito tem que agir segundo uma estratégia e, por vezes, o seu verdadeiro martírio consiste em representar o papel contrário... Quanto a mim, foi isto que sucedeu em Toledo.

O concílio ali reunido procurava recuperar para a ortodoxia de Roma a herética Igreja galega; como afirma Juliana Cabrera, os acusadores estavam, sobretudo, interessados em Dictinio, "a sua cabeça mais perigosa, ou o seu pastor (...), ganhando assim uma boa base de apoio para, depois, poder perseguir e eliminar mais facilmente o resto do clero galego que seguia fiel a Prisciliano."

Dado o clima fortemente priscilianista que se vivia, não somente na Galiza mas em toda a Ibéria, os bispos ortodoxos não tiveram tarefa fácil em Toledo. Como descreve Xosé Chao Rego, "um grupo de clérigos, antes de serem interrogados, manifestaram-se contra o concílio. A tal protesto clamoroso, juntaram-se quatro bispos, um deles Herenas, junto com Acario, Donato e Emílio, que se negaram a rubricar o anátema contra Prisciliano e os seus discípulos, por simples honradez, pois haviam sido eleitos por um povo priscilianista e se renegassem a Prisciliano perderiam o apoio do clero e de todos os fiéis. Um clérigo do bispo Herenas, sem que ninguém lhe perguntasse, proclamou que Prisciliano era católico e um santo mártir, vítima da má fé dos bispos. A sentença do concílio não se fez esperar: Herenas foi deposto, com todos os seus seguidores."

Mas Dictinio e Simpósio, funcionando como um bloco, não podiam ser depostos. A sua função mal havia começado e havia ainda muito para fazer! Por isso, honrando acima de tudo o profundo secretismo iniciático com que se haviam comprometido (muito mais do que o sentido vulgarizado da honra, ligada à sua imagem externa e aos parâmetros da moral social comum), ter-se-ão sujeitado ao martírio de abjurar as suas próprias convicções.

Se Dictinio tivesse sido desterrado ou se transformasse em mais um mártir, não teria podido organizar a rede subterrânea que preservou o priscilianismo e o fez atravessar todas as épocas seguintes, até aos nossos dias.

Passado o concílio de Toledo, tudo indicava que a hierarquia da Igreja não teria mais dificuldades em Astorga. Pura ilusão. Alguns anos depois, a ortodoxia da Igreja envia para Astorga um novo bispo, de nome Toribio, que logo constata que aquele foco não só continuava activo, como o meio era totalmente priscilianista. Numa carta dirigida aos bispos Ceponio e Hidácio de Chaves, Toribio dá-lhes conta de que, em Astorga, "certas tradições, condenadas havia tempo pela Igreja, e que julgara já abolidas, estão totalmente vigentes"...

Esta carta evidencia e comprova o verdadeiro trabalho oculto de Dictinio, antes e pós-concílio, e também que o lume de Astorga não havia parado de crepitar!


CHAMAS

A catedral de Astorga dos nossos dias nada tem a ver com a igreja do século IV dos veneráveis bispos Simpósio e Dictinio. Tal como se disse no início e sucedeu com inúmeras catedrais, foi sucessivamente construída sobre ruínas anteriores. A primeira pedra da catedral actual foi colocada em 1457, sobre as fundações de um templo do século XV que, por sua vez, estava assente sobre uma construção romana.




Portanto, datando do século XV, mas assentando em fundações muito mais antigas, a actual catedral de Astorga levou quatro séculos a ser terminada; isto quer dizer que a mensagem priscilianista que ela contém, não só estava bem viva no século XV, como foi preservada e continuada, sem alterações, por aqueles que a terminaram entre os séculos XIX e XX; e também significa que o priscilianismo não desapareceu entre os séculos VI e VII, como pretende a Igreja, mas que, de uma forma ou de outra, secretamente activo, perdurou até à actualidade.


De facto, por várias vezes a Igreja cantou vitória sobre o priscilianismo mas, depois, sempre irrompeu, algures na Ibéria e, sobretudo, na Galiza, um foco mais do incêndio que julgavam definitivamente extinto.

Por exemplo, no ano 561(ou 563), foi convocado o I Concílio de Braga, presidido por Martinho de Dume, para pôr um fim contundente à interminável querela do priscilianismo. Dez anos volvidos (em 572) realizou-se o II Concílio, sob a mesma santa presidência, tendo Martinho declarado, peremptoriamente, que não existiam já problemas na unidade da fé na Galiza. Mas, pelo sim pelo não, voltou a expor e a condenar uma longa série de erros priscilianistas, repetindo o que haviam feito os concílios anteriores... E, no ano 683, no IV concílio de Toledo, não foi que que o clericato galego voltou a ser acusado de infecção priscilianista?... Inclusive, como consta das respectivas actas, alguns dos seus membros foram perseguidos e acusados pelo inacreditável "pecado" de não cortarem o cabelo!...

Será que o facto da Igreja associar o priscilianismo com o uso de cabelos compridos denota algum tipo de ligação desta corrente com a dinastia merovíngia, ou os chamados Reis Divinos (supostos descendentes da linhagem de Jesus), que se caracterizavam por usarem longas cabeleiras? Na verdade, aquela dinastia reinava na Gália, sobre os Francos, na data do referido concílio e constituía também um sério problema para a igreja de Roma... Historicamente, ninguém estabeleceu qualquer ligação e admito que não exista nada mais do que a coincidência do grande incómodo que ambas as questões pendentes causavam à Igreja; no entanto, aqui fica a referência.

De então para cá, desapareceram todas as referências públicas à corrente priscilianista. Mas no ano de 813, o bispo Teodomiro, exuberante, comunicou a toda a cristandade a descoberta, na Galiza, do túmulo de Santiago! E um novo ciclo começa, com a mais que provável e genial transmutação de Prisciliano em Santiago...


MENSAGEM

Considero a catedral de Astorga a evidência mais significativa da actividade subterrânea da corrente priscilianista que, através da arte e da simbologia, ali deixou gravada uma mensagem extremamente crítica para a Instituição católica.

















No caso de Astorga, nem sequer se utilizaram complexos símbolos esotéricos. Tudo o que ali ficou, deslumbrantemente gravado na pedra (e refiro-me agora, mais concretamente, à fachada principal, enquadrando a grande porta de acesso ao templo), são cenas do Novo Testamento, da mais estrita e pura canonicidade... Simplesmente, o critério da escolha e a associação entre elas, permite que surja uma outra e inquietante leitura, introduzindo no visitante, conhecedor da decifração, o verdadeiro espírito daquele lugar.

Encimando o portal, encontra-se um arco trilobulado, tendo no centro uma grande e impressionante representação da descida do corpo de Jesus do madeiro; portanto, a referência maior ali expressa é ao Messias incompreendido, julgado e condenado à morte pelo poder religioso do seu tempo...






















Em volta dessa dramática cena central, encontram-se quatro outras magníficas representações da vida de Jesus, que sintetizam os motivos que o levaram à cruz. Curiosamente, todas elas decorrem frente a um elemento comum: um templo convencional, que surge sempre colocado como parte do fundo. Fica, então, claro que as cenas reproduzidas decorreram fora do templo, isto é, à revelia do poder religioso constituído.

Em cima e do lado esquerdo (de quem entra na catedral), os mestres canteiros reproduziram uma cena do evangelho de Marcos: Jesus cura o cego Bartimeu.











Do outro lado, mais um milagre e igualmente uma cura: a do hidrópico, retirada do evangelho de Lucas (esclareça-se que a hidropisia é uma doença que provoca a acumulação de líquido ceroso no tecido celular, ou numa cavidade do corpo, especialmente no abdómen, sendo popularmente conhecida como "barriga de água").








Cenas estranhas e até um pouco rebuscadas para ladearem a descida da cruz...

Ou talvez não, se existir, de facto, uma outra leitura: o cego Bartimeu, clamando pelo contacto com Jesus, representa todos os que não vêem e querem ver, ganhando finalmente a visão pela força da sua atitude directa ou da sua vontade, associada à fé... Uma atitude gnóstico-priscilianista, que se situa na posição oposta àqueles que vêem e não querem ver, tornando-se nos piores cegos!

Quanto ao hidrópico, Jesus cura-o num dia de sábado, contra as normas instituídas, enquanto que outros (os que se regem por essas normas e permanecem dentro do templo) tornam-se incuráveis pelos seus preceitos rígidos, "inchados" pela suas interpretações autoritárias e com as barrigas cada vez mais dilatadas pelo seu acomodamento ao poder, tal como o denunciava Prisciliano.

Portanto, estas duas cenas ladeiam a descida do corpo de Jesus da cruz, porque foram os cegos de espírito e os hidrópicos do poder que O condenaram! E que igualmente condenaram Prisciliano...

As duas cenas que, em baixo, ladeiam a porta principal da catedral são, também, altamente significativas e extremamente emotivas, pela força e beleza dos quadros. Do lado direito de quem entra, a cena de Jesus com a mulher adúltera. A presença de mulheres em torno de Jesus foi uma constante; durante a Sua vida, sempre as amou, defendeu, e permitiu que o acompanhassem mas, tal atitude não teve seguimento numa igreja misógina que, inclusive, perseguiu e condenou quem seguiu o exemplo do Mestre. Isto é, Prisciliano...















Ainda por cima, a cena refere-se a um suposto delito sexual, referenciando de imediato um tema delicado para a Igreja e pelo qual Prisciliano também foi condenado. Jesus salvou a mulher da morte por apedrejamento, porque todos que a acusavam se reconheceram pecadores; no caso de Prisciliano, não houve salvação possível, certamente porque os tais cegos e hidrópicos que o levaram à morte se encontravam livres de pecado...















Do outro lado, figura a cena mais dura e impressionante que já vi na entrada de uma catedral: Jesus, de chicote na mão, expulsa os vendilhões do templo. A referência à acção de Prisciliano que, à sua maneira, também enfrentou aqueles que faziam da igreja um comércio indecoroso de almas, é mais do que evidente. Os vendilhões do seu tempo eram a própria Instituição católica romana e ao confrontá-la, em nome dos valores do cristianismo primitivo, Prisciliano acabou executado, como sucedeu com Jesus.

Portanto, o que conta a fachada de Astorga, para além da vida e morte de Jesus, é a condenação e a execução de Prisciliano pela própria Instituição romana. Mas depois da morte vem a ressurreição e é, sobretudo, para dar conta da ressurreição priscilianista, que foi escrito o livro de pedra de Astorga. Essa é a sua primeira mensagem.

Na catedral, o mistério da Ressurreição encontra-se retratado de uma ponta a outra, pois é o tema do vitral da rosácea que encima a fachada principal, do mesmo modo que ilustra, no lado oposto, um outro ponto muito especial: a porta do sacrário. Refira-se ainda que, para Prisciliano e para a Gnose, a Ressurreição pode e deve ocorrer em vida, depois da morte do "eu" personalístico, pois ela respeita, mais do que a ressurreição do corpo, a uma ressurreição da consciência.

E foi a consciência de um cristianismo priscilianista que ali se inscreveu e perdurou até aos nossos dias!


GNOSE

A catedral de Astorga, dedicada a Santa Maria, reflecte aindauma especial devoção pelo Sagrado Feminino, ou não se tratasse de um centro priscilianista. Nela existem oito representações da Virgem, nas suas várias tónicas. Quanto a mim, a mais interessante é a Senhora da Majestade, trazendo Jesus no colo e estendendo a mão direita para oferecer, a quem a contempla, uma maçã... Uma maçã, repito, tal como Eva fez com Adão e que a Igreja sempre considerou uma oferta demoníaca, mas que agora reproduz protagonizada pela Virgem, que assim é assumida como a nova Eva...

Mas o que significa verdadeiramente esse gesto ? Na linguagem simbólica, a maçã representa o conhecimento e a liberdade; ora o conhecimento e a liberdade são sinónimos da gnose e, portanto, é a gnose mesmo, tão cara a Prisciliano e pela qual foi condenado, que a Virgem da Majestade oferece com a sua mão estendida...

A capela com a Senhora da Majestade é uma das duas que ladeiam o altar-mor. Do outro lado, surge-nos um santo algo inesperado nesta catedral: S. Jerónimo. Mas se pesquisarmos a sua vida percebemos imediatamente a razão desta presença.

Jerónimo foi contemporâneo de Prisciliano e secretário pessoal do papa Dâmaso; nessa condição, lidou, muito de perto, com a questão da heresia e, quando Prisciliano se deslocou a Roma, foi o único que colocou o seu prestígio em favor do heresiarca, no sentido de lhe ser concedida uma audiência papal que, face ao poder da oposição reaccionária, acabou por não ser possível.

Quando morreu o papa Dâmaso, Jerónimo teve que deixar o cargo de secretário, pois o novo papa Siricio não o reconduziu. Aliás, a maioria do clero romano, de tendência anti-ascética, considerava Jerónimo como "persona non grata", acusando-o de "vira-casacas", de ter relações de vária ordem com mulheres, e mesmo de feitiçaria, apontando-o como herege e maniqueu (curiosamente, o mesmo rol de acusações que levaram o asceta galego à morte...) Sentindo o perigo, Jerónimo deixou Roma e emigrou para a Palestina.






















  O pensamento de Jerónimo mostra-se um tanto flutuante, como dizem os seus adversários. Cerca de oito anos depois da execução de Tréveris, afigura-se neutral, ao incluir Prisciliano no seu catálogo de ilustres autores cristãos e acrescentando que alguns o acusaram de heresia gnóstica e que outros o defenderam. Chega, inclusive (e com genuína admiração!), a apelidar Prisciliano de "Zoroastris magi studiosissimum"... Mas, posteriormente, devido à influência de Paulo Orósio e a novas perseguições aos priscilianistas, altera a sua posição, passando a hostilizar a heresia.

Penso que a presença de Jerónimo na catedral do priscilianismo se deve também à analogia de muitas passagens da sua incompreendida vida de asceta com a do próprio Prisciliano, passando pelas acusações comuns, que, a um, custaram a vida e, a outro, o exílio voluntário para a salvar.

Mas há um facto fundamental que justifica e determina, por si só, aquela presença: quando Dictinio, bispo priscilianista de Astorga, escreveu a "Libra", que tanto enfureceu santo Agostinho, houve um outro membro da Igreja que também pegou na pluma, mas para se colocar ao lado de Dictinio e defender a sua postura hermética: foi Jerónimo!...

Claro que a outra figura masculina em destaque nesta catedral de mulheres, é a do apóstolo Santiago. Nem poderia deixar de ser, pois, por tudo o que já se disse noutros capítulos, Santiago constitui a referência mais directa a Prisciliano. Em Astorga, para que não restem dúvidas de que é Prisciliano quem se encontra referenciado pela figura de Santiago, colocaram a sua capela ao lado da de Teresa de Ávila, representando, obviamente, a cidade onde foi bispo!... E, logo a seguir, vem a capela de Maria Madalena, símbolo maior da Gnose, que caracterizou toda a doutrina pela qual Prisciliano deu a vida.

Mais evidente, impossível!...

Também não deixa de ser muito curioso que a relíquia guardada na catedral de Astorga seja de S. Brás, um bispo que, antes do cristianismo se tornar em religião romana, teve o mesmo fim de Prisciliano: foi degolado.

Conta-se que S.Brás, conduzido pelos soldados a caminho do local do julgamento, ainda socorreu uma criança prestes a morrer sufocada com uma espinha na garganta; pouco depois, a sua própria garganta era atravessada pela lâmina do carrasco. Por isso, segundo a Igreja, S. Brás passou a ser o protector de todos os males da garganta, sendo, igualmente, patrono e advogado dos conflitos de consciência.

Ou seja, se existe um local especialmente apropriado para a acção de S. Brás é a catedral de Astorga, onde, como se viu, mora um priscilianismo iluminado pelo lume, que continua a ser uma espinha atravessada na garganta da Igreja.

E que, um dia, bem precisará de um bom advogado de conflitos de consciência...


MISTERIO

Mas o caldeirão de pedra de Astorga não se limita a relatar um passado, pois nele continuam a ferver energias íntrisecamente redentoras, que abrem caminhos de futuro!

Segundo leio a mensagem da catedral, esse futuro terá a ver com uma outra figura masculina que se encontra defronte da capela da Madalena (isto é, da Gnose...), do outro lado da nave: S.Lourenço!

Nascido na Ibéria do século III, provavelmente naquela que hoje é a cidade de Huesca, o diácono Lourenço acabou preso pelo imperador Valeriano I e martirizado numa grelha que, depois, se tornou no seu símbolo. Era o fiel depositário dos bens da Igreja primitiva; uma tradição atribui-lhe a posse do cálice da última ceia, isto é do Graal que, depois da sua morte, terá circulado por vários pontos da Península Ibérica.

A figura de S.Lourenço (ou Lorenzo, no seu nome original em língua espanhola), é a expressão exotérica, ou seja, externa e vulgarizada, de um grande Mistério iniciático por detrás do mesmo nome. Diz a Tradição, que nele se encontra envolvido Christian Rosenkreuz , ligado à fundação oculta da Fraternidade Rosa-Cruz, no século XIV. Ora é sabido que os Rosa-Cruzes assumem trabalhar com as energias vitais do próprio Cristo universal, visando a criação de um Homem Novo para um Mundo Novo.

Mas esse Mistério torna-se ainda mais presente e significativo através de uma outra representação de S. Lourenço, agora pictórica e que quase passa despercebida, porque pertence à parte inferior do retábulo hispano-flamengo de S. Miguel. Nessa pintura, S. Lourenço, vestido de dourado, surge numa forma nada comum, porque é mostrado com um livro aberto nas mãos e tendo a seu lado, nada menos do que Santiago, vestido de verde e vermelho!















O que representa esta pintura do século XVI? A primeira resposta óbvia é que se trata da representação dos santos da devoção de quem encomendou o retábulo. Desconhecemos a sua intenção ou a do autor, mas constatamos, face ao extraordinário simbolismo presente (por "acaso" ou deliberadamente) que se trata de uma obra de alto teor iniciático, onde as componentes podem ser lidas de várias maneiras...

Não existindo qualquer relação conhecida entre Santiago e S. Lourenço, que nem sequer viveram na mesma época, a obra só poderá referir-se a algo simbólico e intemporal, certamente relacionado com as páginas do livro de que os dois estão pendentes.

De acordo com a Tradição e o Simbolismo, S. Lourenço e Santiago poderão, também, representar as expressões humanizadas das duas Colunas laterais da Divindade imanifestada, referenciada  pelo pilar dourado central, pintado entre os dois, e de que se não vê o cimo.

Por isso, faz sentido dizer que a expressão deste "Santiago" se relaciona com  o acesso a um novo estado de consciência e, portanto, com a etapa da Transformação do ser humano, obtida através de um neo-priscilianismo libertador da ignorância, do medo e da culpa, insistindo no auto-conhecimento e mostrando que o homem pode aceder à divindade de forma directa, sem necessidade alguma de instituições e intermediários.

Por seu lado, "S. Lourenço" terá a ver com a iniciação no Mistério Rosa-Cruz, referente à etapa da Superação, só possível de ser acedida e cumprida depois de realizada a Transformação anterior.

Portanto, naquela pintura que passa, vulgarmente, despercebida, poderá estar figurado o anúncio de um novo ciclo da História, com a indicação dos seus dois patronos e, como tal, do método a seguir...

Claro que haverão, certamente, muitas outras leituras,significados e interpretações mas, como dizia Fernando Pessoa, "falta que a estrada se ache, mas fica apontada a sua direcção"... De qualquer modo, e independentemente do que S. Lourenço e Santiago ali simbolizem, a cena representada indica que terão que se reunir e completar, para cumprir o que está escrito...

Ou seja, aquela belíssima e ignorada pintura poderá encerrar uma profecia igualmente desconhecida, assim  como o enunciado das condições para a sua realização. E essa poderá ser, afinal, a outra e derradeira mensagem do lume herético de Astorga.

Que volta a avivar a rede de fogos priscilianistas ao longo do Caminho!