Oh que maravilha!
Quantas criaturas belas há aqui!
Quão bela é a humanidade! Oh admirável mundo
novo,
No
qual vive gente assim.
William Shakespeare
A História do Mundo assinala que, de todos os países, Portugal foi o primeiro
a instaurar um império global. Na verdade, o Império Português constituído a partir
do século XV e somente desmantelado no século XX, incluiu simultaneamente territórios
em cada um dos cinco continentes.
Muitos outros se seguiram, já que sempre existiu por parte das grandes
potências mundiais (como Portugal o foi no século XV) uma forte tendência para
a extensão global e forçada do seu poder ou ideologia, quer por descoberta,
quer por conquista.
Também havia sido assim com os grandes impérios do passado mais remoto,
como o dos Persas do séc. IV aC, até ser conquistado por Alexandre Magno, que logo
implantou o Império grego, assim como o império Romano do séc. II, o Mongol do
séc. XIII, o Otomano do mesmo século e até ao XX, o império Espanhol do séc.
XVI ao XIX, ou o Britânico, entre os sécs. XVI e XX; a lista é longa, incluindo,
evidentemente, os impérios das Dinastias chinesas e os dos Califatos árabes. Todos
tiveram o seu momento na História e, de algum modo, precederam a tentativa hegemónica
globalista atual. No entanto, todos aqueles impérios, como expressões do poder
secular, desapareceram uns a seguir aos outros, precisamente porque se baseavam
numa autoridade temporal, superficial e absolutamente mundana, ou seja, num
poder de humanos submetendo a outros humanos mais débeis.
O “globalismo”, de que tanto se fala hoje em dia, também poderá assumir-se
e atuar como um daqueles impérios, desta vez como o maior de todos, pois pretende
unificar todo o planeta sob a égide de um só governo, com âmbito mundial. Mas,
antes de prosseguir na explanação dos seus propósitos, penso que será útil
entender o significado preciso do termo, mais do que nunca na ordem do dia.
Por definição, o globalismo refere-se a uma ideologia que coloca os interesses globais acima dos nacionais, portanto, com um alcance muito mais lato do que o conceito de internacional. Alguns sociólogos empregam o termo “globalização” para definirem a relação económica entre todos os países do mundo, tornando possível o livre intercâmbio de bens e serviços. Outros, preferem utilizar a palavra “mundialização” para assinalar a unificação progressiva de um planeta cada vez mais interconectado e interdependente do avanço tecnológico e informático, assim como de uma economia sem fronteiras, resultante das políticas multinacionais.
Portanto, teoricamente, a mundialização seria algo que contribuiria para
uma melhoria social da humanidade, sendo a globalização o meio para a pôr em
prática. No entanto, os dois termos confundem-se entre si e ambos fazem parte
de um outro conceito suscitado pela expressão “Nova Ordem Mundial[1]
“, defendida por tantos políticos de
peso, como os americanos do clã Clinton
ou da família Obama, inúmeras Casas Reais e governantes da Europa, organizações
como o Facebook ou Twiter, sem uma ideologia definida pois a política que
utilizam é absolutamente transversal, percorrendo todos os quadrantes e
servindo-se indiscriminadamente tanto da esquerda como da direita para a
obtenção dos seus fins, assim como sem rasgos religioso-doutrinários para além
do poder – o Papa Benedito XVI escreveu na encíclica Caritas in Veritate que “urge
a existência de uma verdadeira Autoridade política mundial” e o Papa
Francisco, num discurso à Pontifícia Academia de Ciências Sociais, afirmou que “ o bem comum tornou-se global e os países
devem associar-se em benefício próprio. Quando um bem comum supranacional é
claramente identificado, há necessidade de uma autoridade legalmente
constituída, capaz de facilitar sua implementação”.
A eles se associam o escol
empresarial do mundo, os donos das maiores multinacionais, os mais influentes
banqueiros e milionários, como os conhecidos Bill Gates ou George Soros, os grandes
senhores do petróleo e, evidentemente, os cada vez mais poderosos patrões da
indústria farmacêutica. O seu objetivo consiste em estender o seu poderio (político,
financeiro, comercial...) ao mundo inteiro, substituindo os estados-nações por
uma forma única de governo mundial. Tudo isso, segundo afirmam, para o bem-estar,
saúde e felicidade das populações, evidentemente[2].
Devo dizer, desde já, que tais propostas me causam
calafrios. Precisamente porque
essa “solução”, ao invés de felicidade e bem-estar, implicaria ingerência no
governo dos países, com cortes sucessivos nas liberdades dos cidadãos e um
controle cada vez mais acentuado dos seus movimentos, como, aliás, temos vindo
a assistir em todo o mundo... E, evidentemente, uma dependência crescente de um
poder central global – o que significa, com todas as letras, a instauração de
uma gigantesca ditadura mundial.
Devo
acrescentar que tudo que seja “um só” imposto, sem outras possibilidades de
escolha e de caminho, como pretende a Nova Ordem Mundial, caraterizada por um
só poder governativo, uma só moeda e uma só religião, me projeta de imediato para os avisos contidos nos livros de Aldous
Huxley, Admirável Mundo Novo e de
George Orwell, 1984 ou ainda O Triunfo dos Porcos, obras agora
escamoteadas ou menosprezadas, ignoradas ou esquecidas, mas que tantas pistas
nos deixaram para prevenir o pesadelo totalitário que, nas referidas novelas,
começou com situações muito semelhantes às do mundo de hoje.
Efetivamente, todos assistimos, por parte de
governantes obedecendo à Nova Ordem, ao mais descarado culto da personalidade
do líder num clima cada vez mais carregado de repressão, suspeita e medo, à
instilação do ódio e promoção da denúncia, utilizando sem pudor as mais
insidiosas estratégias para o controle das populações, começando, claro, pelo da
vida privada de cada um...
Em nome do combate a uma pandemia surgida tão a
propósito dos seus interesses, aqueles políticos ou líderes sociais e
religiosos, com o apoio dos media[3]
que já lhes pertencem ou que são comprados, não se cansam de idiotizar a massa,
com lavagens constantes ao cérebro, reprimindo a liberdade de expressão e não
hesitando na supressão das ideias contrárias, reinstalando vergonhosamente a
censura e reescrevendo a História segundo a sua verdade, procurando por todos
os meios a aniquilação do Eu individual e anulando a capacidade de cada um em
reconhecer a realidade, tal como sucede no pesadelo descrito pelas duas novelas
...
Para o globalismo atual não há qualquer necessidade de ocupação
territorial, já que se baseia no controle do homem pelo medo, levando, inclusive,
a que sejam os futuros escravos a renunciar à liberdade e aos seus direitos em
nome da suposta segurança das suas pessoas e bens! Mas, como prevenia Benjamim
Franklin[4],
“qualquer sociedade que troque a
liberdade por um pouco mais de segurança, não merece qualquer delas e acabará,
inevitavelmente, por perder uma e a outra. “
Por isso, não confio nem acredito na bondade e nos bons propósitos da Nova
Ordem, antes nela reconhecendo a Velha
Ordem que se não dá por vencida e que tenta desesperadamente travestir-se de
“Nova”, usando todos os meios para se manter e, até, expandir o seu poder.
Nessa Nova/Velha
Ordem, comandada pela alta-roda mundial atrás referida, englobam-se, portanto,
todos os regimes políticos, abrangendo o vasto espectro de linhas ideológicas,
os diversos credos e religiões, as concepções económicas e tipos de sociedade
conhecidos, mas por cima daquela “elite” conhecida ainda existirá uma outra,
que será quem verdadeiramente governa o mundo na sombra, por cima dos sistemas
e dos países, que vai utilizando como braços, conforme as situações.
E tudo isso, tal como nas referidas novelas, sempre sob a capa das
pretensas melhorias e do bem-estar generalizado da humanidade, ocultando o autoritarismo
mais repulsivo ou mesmo o maior atentado à liberdade do homem de toda a
História.
Daí que o nosso mundo, ao invés de uma aldeia global devotada ao serviço
comum e à felicidade de todos e cada um dos seus habitantes, se encontre à
beira de se tornar num lugar de escravidão e de obscurantismo, com a sujeição
do conjunto da população mundial à vontade e à sede de poder de uns quantos,
agindo, por sua vez, em nome de outros com metas muito para além do lucro e do
poder material, pois o seu objetivo não é conquistar o mundo, mas a humanidade[5].
Por isso, creio que chegou o momento de cada um deixar de lado os seus receios, seu aconchego doméstico e confortável, a sua abstenção, o seu cansaço e a sua indiferença, o seu egoísmo de não querer saber, as suas desculpas de impotência e inutilidade, para assumir, corajosamente, uma posição mais consciente e ativa face aos acontecimentos que se desenrolam à sua volta. Revoltando-se contra o sistema, e abandonando o politicamente correto, o socialmente correto, o religiosamente correto para lutar o combate da sua vida, escolher o seu caminho e construir o seu destino próprio, e não o que outros lhe indicam. Sem medo e sem complexos porque em causa está a sua liberdade, a sua felicidade e a de todos à sua volta.
Ou seja, o futuro imediato da humanidade.
***
Como já referi antes, o britânico Aldous Huxley, em 1932, inspirou-se nos
versos do seu compatriota William Shakespeare que servem de epigrafe a este
capitulo[6]
para dar título ao seu livro mais famoso – “Admirável
mundo novo” –, onde anteviu os cenários desta outra globalização. Sob a
aparência de uma novela de ficção cientifica, Huxley refere-se a um programa
político globalista exercido por um Estado mundial explorando uma humanidade encarcerada,
submissa e hierarquizada, como resultado da aplicação de drogas e também de manipulações
genéticas. Tal como, nos nossos dias, sucede com as vacinas para combater o
Covid 19, surgidas milagrosamente em tão pouco tempo e que, tal como sucede com
alguns outros medicamentos, se baseiam numa nova tecnologia que manuseia o ADN
humano...
O livro descreve uma humanidade ordenada em castas e onde todos são compulsivamente
felizes, ocupando o seu lugar num tecido social saudável onde a pobreza foi
erradicada e os conflitos e as guerras desapareceram. Mas muito mais coisas,
nomeadamente valores tidos como pilares da sociedade anterior, desapareceram
também...
O autor terá sido inspirado pelo mito da caverna de Platão, onde as pessoas
julgam ser felizes sem saberem que são escravas, permanecendo encerradas na
prisão da sua própria mente. O terrível paradoxo apresentado naquele pavoroso
“mundo novo” é que o “estado de felicidade” somente foi alcançado depois de se
eliminarem princípios fundamentais como a família, ou valores essenciais como a
arte e a cultura, a ciência, as crenças espirituais e, sobretudo, o amor. Ou
seja, o retrato dessa sociedade totalitária, opressiva e assustadora nada tem
de admirável e essa ironia de Aldous Huxley[7],
constitui, na verdade, um sério e arrepiante aviso aos vindouros, isto é, a
todos nós, humanidade atual, espelhando muitos aspetos das nossas vidas que nos
colocam em marcha acelerada para um futuro semelhante.
Também George Orwell[8],
com o seu “1984” refletiu profunda e
satiricamente sobre o horror de um futuro totalitário, a partir das experiências
desenvolvidas no seu próprio tempo, quer com Hitler na Alemanha nazi, quer na
Rússia comunista, com Stalin. No
entanto, o livro também se converteu numa caricatura dos tempos que atualmente
vivemos, pois em muitos países se estabeleceu já uma ditadura sibilina que utiliza
métodos orwellianos para restringir cada vez mais as liberdades individuais. E
o número de países convertidos ao processo vai assustadoramente aumentando.
No livro, a figura central e visível do Partido único, que dá cara humana
ao aparelho do estado, é o Grande Irmão ou Big Brother, a que todos os cidadãos
deverão amar incondicionalmente. Claro que aquelas felizes populações são
constantemente vigiadas por uma infinidade de meios, que monitorizam inclusive
os seus pensamentos, identificando e eliminando os opositores e prendendo os
descontentes.
O protagonista do livro é Winston
Smith, que trabalha como censor no Ministério da Verdade, revendo toda a
História passada para a adequar às circunstâncias do momento.
O próprio Orwell explicou que “o
objetivo implícito daquela linha de pensamento é um mundo de pesadelo, em que o
Líder ou a clique governante, controlam não somente o futuro, mas também o
passado. Se o Líder diz que tal evento “nunca aconteceu”, pois bem, nunca
aconteceu... Se diz que dois e dois são cinco, pois bem, dois e dois são cinco.
”
No entanto, Winston Smith ainda tem
uma alma de rebelde e, apesar de ser ele mesmo controlado e espiado a todo o
momento pelo écran omnipresente do Big Brother, ousa cometer um primeiro ato
dissidente, ocultando-se da vista da câmera para escrever um diário, refletindo
a sua própria visão do mundo. O segundo ato de profunda rebeldia, foi apaixonar-se
por uma mulher, sabendo que ambas as transgressões lhe poderiam acarretar a
pena de morte. No final, depois de ser descoberto e preso, sucumbe à tortura,
que faz com que “algo morra dentro do peito, queimado, cauterizado” e acaba por
confessar que “dois mais dois são cinco...”
No pesadelo de Orwell, tal como começa a suceder na atualidade, não são
admitidas liberdades de opinião (a censura na internet já é um triste fato do
nosso tempo, bem como a pretensão de “Ministérios da Verdade”[9]
para controlar e anular tudo o que contraria a “verdade do poder”...), nem
liberdades de reunião ou de circulação (agora, com a desculpa do vírus...), nem
liberdades económicas (tudo que eram empresas médias, pequenas ou familiares já
foram ou estão a ser sistematicamente destruídas, abrindo passo a uma situação
permanente de medo, pobreza e dependência do Estado...) e até o Amor, que no
livro é proibido, se encontra na mira dos governantes atuais, com as cada vez
mais controladoras políticas de género...
Na novela, existe um plano definido para a aniquilação do Eu e da
capacidade para reconhecer a realidade, reinventando a História à vontade do
poder[10]
e manipulando o pensamento individual, totalmente distorcido pela ideologia, a
fim de moldar mais facilmente a massa, cada vez mais dócil e indefesa. E na
atualidade, não sucede o mesmo, com o paternalismo cada vez mais autoritário e repressivo
escondido na boneca russa que contém os Big Brother da Nova Ordem e que, ainda
por cima, elegemos? ...
A nossa Liberdade está em perigo, é preciso dizê-lo muitas vezes! E não se
trata de um processo ideológico-político, social ou religioso, mas que envolve também
todas essas componentes e vai muito mais além, convertendo-se numa questão
vital de sobrevivência da espécie humana.
Mas também
poderemos perceber que se aproxima, inexoravelmente, um Novo Ciclo da História
e que todos estes eventos e ataques desesperados mais não são do que estertores
da Velha Ordem, que sabe estar próxima do fim e reage raivosa e maldosamente,
provocando o maior dano possível.
O Novo Ciclo,
que também se apresenta à escala planetária, mas como a expressão mais sublime
do globalismo físico e espiritual, não será outro senão aquele que os portugueses
chamaram de Quinto Império e, por tudo que ficou dito atrás, a Nova Ordem Mundial perfila-se como a sua grande opositora.
Na verdade, o Quinto Império baseia-se na
transformação individual e espiritual do homem, enquanto a Nova Ordem, que nada
tem de espiritual, aspira ao controle indiscriminado e repressivo da massa
humana; o Quinto Império
assenta na Consciência e na Liberdade, condições para que flua a energia do
Amor, resultando em laços de Espiritualidade e de Cultura entre os povos, sem interesses
egoístas e em harmonia com a Natureza, ao passo que a Nova Ordem aposta na
ignorância e no medo para conseguir impor o seu domínio e favorecer a sua própria
exploração dos recursos do planeta, à escala mundial. E fazer do homem um mero
servidor obediente, leia-se escravo.
Contrabalançando
os poderes sombrios, acredito que também existe uma grande força em favor da
Humanidade: não um exército élfico para lutar ao seu lado, como n’ “O Senhor
dos Anéis”, mas a evidência da componente divina que cada ser humano possui
dentro de si mesmo. Trata-se de uma questão íntima, interna, que nada tem a ver
com rituais, cerimónias e religiões, e é a maior conquista que esta crise sanitária
mundial poderá proporcionar.
Na verdade,
a situação de convivência diária com a morte deixou os seres humanos num estado
de choque, mas poderá ter aberto um espaço interior de reflexão e de percepção
profunda do mundo e da vida. Pela primeira vez, no caso de muitos, se
questionarão valores e objetivos, distinguindo entre os que perduram e os que
pareciam fundamentais ontem e, hoje, não têm, importância alguma. Ou seja, ao haver colocado todas as
sociedades e organizações humanas de rastos, o vírus favoreceu enormemente a
descoberta da interioridade em cada um de nós. Poderá ter sido uma oportunidade
criada pelos piores motivos, mas abriu a porta ao que de melhor a humanidade
poderá conter e realizar.
Encontramo-nos,
portanto, perante uma oportunidade única, que tanto nos poderá fazer sucumbir ao
medo como nos tornar capazes de o varrer por completo, ateando a luz da
Consciência, distinguindo a verdadeira Liberdade e constatando que o fato de
lutarmos pelo planeta é porque nós, Humanidade, e a Terra, somos UM. E com essa
Consciência, poderemos resistir à Nova Ordem e ganhar as batalhas que temos
pela frente.
Cada ser
humano poderá visualizar em si mesmo o Quinto Império e, pela força agregada
dessa fé e vontade espiritual, a Velha Ordem poderá sucumbir ainda mais
rapidamente. Seja como for, mais cedo ou mais tarde, ela vai cair e a sua queda
deixará à vista caminhos novos para o mundo, caminhos de Liberdade, que nada
nem ninguém, nenhuma elite, regime político ou religião, poderão controlar ou
anular.
***
Em 1917, portanto muito antes de Aldous Huxley e George Orwell escreverem
os seus livros, já o português Fernando Pessoa, através do seu heterônimo
Álvaro de Campos, publicava o Ultimatum[11],
como um mandado de despejo aos mandarins da Europa e, afinal, do mundo. Mandarins
políticos, sociais, artísticos, filosóficos, religiosos, enfim, de todos os recantos
da expressão humana...E basta substituir os nomes dos visados de então pelos de
agora, para verificarmos como é arrepiante a correspondência, a atualidade e a
premência da mensagem pessoana.
Vou, então, dar a palavra ao Engenheiro Álvaro de Campos para que nos
conduza na primeira vassourada aos mandarins da Nova Ordem Mundial:
“Mandado
de despejo aos mandarins da Europa! Fora.
Fora
tu , Anatole France , Epicuro de farmacopeia homeopática, tenia-Jaurès do
Ancien Régime, salada de Renan-Flaubert em loiça do século dezassete,
falsificada!
Fora
tu, Maurice Barrès, feminista da Acção, Châteaubriand de paredes nuas,
alcoviteiro de palco da pátria de cartaz, bolor da Lorena, algibebe dos mortos
dos outros, vestindo do seu comércio !
Fora
tu, Bourget das almas, lamparineiro das partículas alheias, psicólogo de tampa
de brasão, reles snob plebeu, sublinhando a régua de lascas os mandamentos da
lei da Igreja!
Fora
tu, mercadoria Kipling, homem-prático do verso, imperialista das sucatas, épico
para Majuba e Colenso, Empire-Day do calão das fardas, tramp-steamer da baixa
imortalidade !
Fora
! Fora !
Fora
tu, George Bernard Shaw, vegeteriano do paradoxo, charlatão da sinceridade,
tumor frio do ibsenismo, arranjista da intelectualidade inesperada,
Kilkenny-Cat de ti próprio, Irish Melody calvinista com letra da Origem das
Espécies!
Fora
tu, H. G. Wells, ideativo de gesso, saca-rolhas de papelão para a garrafa da
Complexidade !
Fora
tu, G. K. Chesterton, cristianismo para uso de prestidigitadores, barril de
cerveja ao pé do altar, adiposidade da dialéctica cockney com o horror ao sabão
influindo na limpeza dos raciocínios !
Fora
tu, Yeats da céltica bruma à roda de poste sem indicações, saco de podres que
veio à praia do naufrágio do simbolismo inglês!
Fora
! Fora !
Fora
tu, Rapagnetta-Annunzio, banalidade em caracteres gregos, «D. Juan em Patmos»
(solo de trombone)!
E
tu, Maeterlinck, fogão do Mistério apagado!
E
tu, Loti, sopa salgada, fria!
E
finalmente tu, Rostand-tand-tand-tand-tand-tand-tand-tand!
Fora!
Fora! Fora!
E
se houver outros que faltem, procurem-nos aí para um canto!
Tirem
isso tudo da minha frente!
Fora
com isso tudo! Fora!
Aí
! Que fazes tu na celebridade, Guilherme Segundo da Alemanha, canhoto maneta do
braço esquerdo, Bismarck sem tampa a estorvar o lume ?!
Quem
és tu, tu da juba socialista, David Lloyd George, bobo de barrete frígio feito
de Union Jacks?!
E
tu, Venizelos, fatia de Péricles com manteiga, caída no chão de manteiga para
baixo?!
E
tu, qualquer outro, todos os outros, açorda Briand-Dato-Boselli da
incompetência ante os factos, todos os estadistas pão-de-guerra que datam de
muito antes da guerra! Todos! todos! todos! Lixo, cisco, choldra provinciana,
safardanagem intelectual!
E
todos os chefes de estado, incompetentes ao léu, barris de lixo virados pra
baixo à porta da Insuficiência da Época!
Tirem
isso tudo da minha frente!
Arranjem
feixes de palha e ponham-nos a fingir gente que seja outra!
Tudo
daqui para fora! Tudo daqui para fora!
Ultimatum
a eles todos, e a todos os outros que sejam como eles todos!
Se
não querem sair, fiquem e lavem-se !
Falência
geral de tudo por causa de todos !
Falência
geral de todos por causa de tudo !
Falência
dos povos e dos destinos — falência total !
Desfile
das nações para o meu Desprezo!
Tu,
ambição italiana, cão de colo chamado César!
Tu,
«esforço francês», galo depenado com a pele pintada de penas! (Não lhe dêem
muita corda senão parte-se!)
Tu
organização britânica, com Kitchener no fundo do mar desde o princípio da
guerra!
(It's
a long, long way to Tipperary, and a jolly sight longer way to Berlin !)
Tu,
cultura alemã, Esparta podre com azeite de cristianismo e vinagre de
nietzschização, colmeia de lata, transbordeamento imperialóide de servilismo
engatado!
Tu,
Áustria-súbdita, mistura de sub-raças, batente de porta tipo K!
Tu,
Von Bélgica, heróica à força, limpa a mão à parede que foste!
Tu,
escravatura russa, Europa de malaios, libertação de mola desoprimida porque se
partiu!
Tu,
«imperialimo» espanhol, salero em política, com toureiros de sambenito nas
almas ao voltar da esquina e qualidades guerreiras enterradas em Marrocos !
Tu,
Estados Unidos da America, síntese-bastardia da baixa-Europa, alho da aÁorda
transatlântica, pronúncia nasal do modernismo inestético!
E
tu, Portugal-centavos, resto de Monarquia a apodrecer República,
extrema-unção-enxovalho da Desgraça, colaboração artificial na guerra com
vergonhas naturais em África!
E
tu, Brasil «república irmã», blague de Pedro Álvares Cabral, que nem te queria
descobrir!
Ponham-me
um pano por cima de .tudo isso!
Fechem-me
isso à chave e deitem a chave fora!
Onde
estão os antigos, as forças, os homens, os guias, os guardas?
Vão
aos cemitérios, que hoje são só nomes nas lápides!
Agora
a filosophia é o ter morrido Fouillée!
Agora
a arte é o ter ficado Rodin!
Agora
a literatura é Barrès significar!
Agora
a crítica é haver bestas que não chamam besta ao Bourget!
Agora
a política é a degeneração gordurosa da organização da incompetência!
Agora
a religião é o catolicismo militante dos taberneiros da fé, o entusiasmo
cozinha-franceza dos Maurras de razão-descascada, é a espectaculite dos
pragmatistas cristãos, dos intuicionistas católicos, dos ritualistas nirvânicos,
angariadores de anúncios para Deus !
Agora
é a guerra, jogo do empurra do lado de cá e jogo de porta do lado de lá!
Sufoco
de ter só isto à minha volta!
Deixem-me
respirar!
Abram
todas as janelas !
Abram
mais janelas do que todas as janelas que há no mundo!
Nenhuma
ideia grande, ou noção completa ou ambição imperial de imperador-nato!
Nenhuma
ideia de uma estrutura, nenhum senso do Edifício, nenhuma ânsia do
Orgânico-Criado!
Nem
um pequeno Pitt, nem um Goethe de cartão, nem um Napoleão de Nürnberg!
Nem
uma corrente literária que seja sequer a sombra do romantismo ao meio-dia!
Nem
um impulso militar que tenha sequer o vago cheiro de um Austerlitz!
Nem
uma corrente política que soe a uma ideia-grão, chocalhando-a, ó Caios Grachos
de tamborilar na vidraça!
Época
vil dos secundários, dos aproximados, dos lacaios com aspirações de lacaios a
reis-lacaios!
Lacaios
que não sabeis ter a Aspiração, burgueses do Desejo, transviados do balcão
instintivo! Sim, todos vós que representais a Europa, todos vós que sois
políticos em evidência em todo o mundo, que sois literatos meneurs de correntes
europeias, que sois qualquer coisa a qualquer coisa neste maelström de
chá-morno!
Homens-altos
de Lilliput-Europa, passai por baixo do meu Desprezo ! Passai vós, ambiciosos
do luxo quotidiano, anseios de costureiras dos dois sexos, vós cujo tipo é o
plebeu Annunzio, aristocrata de tanga de ouro!
Passai
vós, que sois autores de correntes artísticas, verso da medalha da impotência
de criar!
Passai,
frouxos que tendes a necessidade de serdes os istas de qualquer ismo!
Passai,
radicais do Pouco, incultos do Avanço, que tendes a ignorância por coluna da
audácia, que tendes a impotência por esteio das neo-teorias!
Passai,
gigantes de formigueiro, ébrios da vossa personalidade de filhos de burguês,
com a mania da grande-vida roubada na dispensa paterna e a hereditariedade
indesentranhada dos nervos!
Passai,
mistos; passai, débeis que só cantais a debilidade; passai, ultra-débeis que
cantais só a força, burgueses pasmados ante o atleta de feira que quereis criar
na vossa indecisão febril !
Passai,
esterco epileptóide sem grandezas, histerialixo dos espectáculos, senilidade
social do conceito individual de juventude!
Passai,
bolor do Novo, mercadoria em mau estado desde o cérebro de origem!
Passai
à esquerda do meu Desdém virado à direita, criadores de «sistemas filosóficos»,
Boutroux, Bergsons, Euckens, hospitais para religiosos incuráveis, pragmatistas
do jornalismo metafísico, lazzaroni da construção meditada!
Passai
e não volteis, burgueses da Europa-Total, párias da ambição do parecer-grandes,
provincianos de Paris!
Passai,
decigramas da Ambição, grandes só numa época que conta a grandeza por
centimiligramas!
Passai,
provisórios, quotidianos, artistas e políticos estilo lightning-lunch, servos
empoleirados da Hora, trintanários da Ocasião!
Passai,
«finas sensibilidades» pela falta de espinha dorsal; passai, construtores de
café e conferência, monte de tijolos com pretensões a casa!
Passai,
cerebrais dos arrabaldes, intensos de esquina-de-rua!
Inútil
luxo, passai, vã grandeza ao alcance de todos, megalomonia triunfante do aldeão
de Europa-aldeia!
Vós
que confundis o humano com o popular, e o aristocrático com o fidalgo! Vós que
confundis tudo, que, quando não pensais nada, dizeis sempre outra coisa!
Chocalhos, incompletos, maravalhas, passai!
Passai,
pretendentes a reis parciais, lords de serradura, senhores feudais do Castelo
de Papelão!
Passai,
romantismo póstumo dos liberalões de toda a parte, classicismo em álcool dos
fetos de Racine, dinamismo dos Whitmans de degrau de porta, dos pedintes da
inspiração forçada, cabeças ocas que fazem barulho porque vão bater com elas
nas paredes!
Passai,
cultores do hipnotismo em casa, dominadores da vizinha do lado, caserneiros da
Disciplina que não custa nem cria !
Passai,
tradicionalistas auto-convencidos, anarquistas deveras sinceros, socialistas a
invocar a sua qualidade de trabalhadores para quererem deixar de trabalhar!
Rotineiros da revolução, passai!
Passai
eugenistas, organizadores de uma vida de lata, prussianos da biologia aplicada,
neo-mendelianos da incompreensão sociológica!
Passai,
vegeterianos, teetotalers, calvinistas dos outros, kill-joys do imperialismo de
sobejo!
Passai,
amanuenses do «vivre sa vie» de botequim extremamente de esquina, ibsenóides
Bernstein-Bataille do homem forte de sala de palco!
Tango
de pretos, fosses tu ao menos minuete!
Passai,
absolutamente, passai!
Vem
tu finalmente ao meu Asco, roça-se tu finalmente contra as solas do meu Desdém,
grand finale dos parvos, conflagração-escárneo, fogo em pequeno monte de
estrume, síntese dinâmica do estatismo ingénito da Época!
Roça-te
tu e rojate, impotência a fazer barulho!
Roça-te,
canhões declamando a incapacidade de mais ambição que balas, de mais
inteligência que bombas!
Que
esta é a equação-lama da infâmia do cosmopolitismo de tiros:
JONNART
BÉLGICA
VON
BISSING
GRÉCIA
Proclamem
bem alto que ninguém combate pela liberdade ou pelo Direito!Todos combatem por
medo dos outros ! Não tem mais metros que estes milímetros a estatura das suas
direcções!
Lixo
guerreiro-palavroso! Esterco Joffre-Hindenburguesco! Sentina europeia de Os
Mesmos em excisão balofa!
Quem
acredita neles?
Quem
acredita nos outros?
Façam
a barba aos poilus!
Descasquetem
o rebanho inteiro!
Mandem
isso tudo pra casa descascar batatas simbólicas!
Lavem
essa celha de mixórdia inconsciente!
Atrelem
uma locomotiva a essa guerra!
Ponham
uma coleira a isso e vão exibi-lo para a Austrália!
Homens,
nações, intuitos, está tudo nulo!
Falência
de tudo por causa de todos! Falência de todos por causa de tudo! De um modo
completo, de um modo total, de um modo integral:
MERDA!
A
Europa tem sede de que se crie, tem fome de Futuro !
A
Europa quer grandes Poetas, quer grandes Estadistas, quer grandes Generais !
Quer
o Político que construa conscientemente os destinos inconscientes do seu povo !
Quer
o Poeta que busque a Imortalidade ardentemente, e não se importe com a fama,
que é para as actrizes e para os produtos farmacêuticos!
Quer
o General que combata pelo Triunfo Construtivo, não pela vitória em que apenas
se derrotam os outros!
A
Europa quer muito destes Políticos, muitos destes Poetas, muitos destes
Generais!
A
Europa quer a Grande Ideia que esteja por dentro destes Homens Fortes — a ideia
que seja o Nome da sua riqueza anónima!
A
Europa quer a Inteligência Nova que seja a Forma da sua Mateira caótica!
Quer
a Vontade Nova que faça um Edifício com as pedras-ao-acaso do que é hoje a
Vida!
Quer
a sensibilidade Nova que reúna de dentro os egoísmos dos lacaios da Hora!
A
Europa quer Donos! O Mundo quer a Europa!
A
Europa está farta de não existir ainda ! Está farta de ser apenas o arrabalde
de si-própria ! A Era das Máquinas procura, tacteando, a vinda da Grande
Humanidade!
A
Europa anseia, ao menos, por Teóricos de O-que-será, por Cantores-Videntes do
seu Futuro!
Dai
Homeros À Era das Máquinas, ó Destinos científicos! Dai Miltons à época das
Coisas Eléctricas, ó Deuses interiores à Matéria!
Dai-nos
Possuidores de si-próprios, Fortes Completos, Harmónicos Subtis!
A
Europa quer passar de designação geográfica a pessoa civilizada !
O
que aí está a apodrecer a Vida, quando muito é estrume para o Futuro!
O
que aí está não pode durar, porque não é nada!
Eu,
da Raça dos Navegadores, afirmo que não pode durar!
Eu,
da Raça dos Descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir um Novo
Mundo!
Quem
há na Europa que ao menos suspeite de que lado fica o Novo Mundo agora a
descobrir?
Quem
sabe estar em um Sagres qualquer?
Eu,
ao menos, sou uma grande Ânsia, do tamanho exacto do Possível!
Eu,
ao menos sou da estatura da Ambição Imperfeita, mas da Ambição para Senhores,
não para escravos!
Ergo-me
ante, o sol que desce, e a sombra do meu Desprezo anoitece em vós!
Eu,
ao menos, sou bastante para indicar o Caminho!
Vou
indicar o caminho!
(...
... ...)[12]
Mas
eu só vejo o Caminho; não sei onde ele vai ter.
Em
todo o caso proclamo a necessidade da vinda da Humanidade dos Engenheiros!
Faço
mais: garanto absolutamente a vinda da Humanidade dos Engenheiros!
Proclamo,
para um futuro próximo, a criação científica dos Super-homens!
Proclamo
a vinda de uma Humanidade matemática e perfeita!
Proclamo
a sua Vinda em altos gritos!
Proclamo
a sua Obra em altos gritos!
Proclamo‑A,
sem mais nada, em altos gritos!
E
proclamo também: Primeiro:
O Super-homem será, não o mais forte,
mas o mais completo!
E
proclamo também: Segundo:
O
Super-homem será, não o mais duro, mas o mais complexo!
E
proclamo também: Terceiro:
O
Super-homem será, não o mais livre, mas o mais harmónico!
Proclamo isto bem alto e bem no auge,
na barra do Tejo, de costas para a Europa, braços erguidos, fitando o Atlântico
e saudando abstractamente o Infinito. “
Salvaguardadas as devidas distâncias, também
eu me sinto a saudar abstratamente o Infinito, na barra do Tejo por dentro de
mim, de costas para a Europa, como que aguardando a chegada do Encoberto do
outro lado do espelho Atlântico ou na outra margem do Mistério...
[1]Durante o
século XX, políticos como o primeiro ministro britânico Winston Churchill ou o presidente americano Thomas Woodrow Wilson utilizaram o termo “Nova Ordem Mundial”
para, na sequência das duas guerras mundiais, implementar propostas que
resolvessem problemas globais, respeitando sempre o direito das nações à
autodeterminação. Foi assim que nasceram organizações internacionais como a
ONU, destinada a constituir uma associação de Estados soberanos e não uma
transição para um governo mundial.
[2] Tais objetivos poderão ser verificados por programas tornados públicos, como os do Foro Económico Mundial, ou Foro de Davos (pois a sua assembleia anual reúne-se em Davos, na Suíça), onde se reúnem os principais líderes políticos e empresariais do mundo para, supostamente, analisarem os problemas vitais do planeta como, segundo afirmam, o câmbio climático e a saúde das populações. Claro que, por saúde, se poderá também ler controle populacional e, inclusive, o anuncio de novas pandemias (tal como Bill Gates já o proclamou, para daqui a três anos) e, por câmbio climático, uma outra forma de alarmismo global para favorecer interesses políticos que nada têm a ver com o clima no planeta.
[3] Basta olharmos o estado do mundo com olhos não
deformados pelos media (que,
vergonhosamente, nos servem a diário doses maciças de medo e de embuste,
precisamente para manter o atordoamento das populações) para verificarmos que a
crise sanitária em que nos mergulharam (e que, como tal, deveria ser
essencialmente clínica e de gravidade mediana, a avaliar pelas percentagens
reais de vítimas e em comparação com outras epidemias muito mais letais)
surgiu, afinal, como uma plataforma de transformação política, social e
económica do mundo, favorecendo, descaradamente, os objetivos da Nova Ordem
Mundial.
Com a quase totalidade dos meios de comunicação social do mundo– cadeias de televisão, rádios e jornais em cada país – vendidos à Nova Ordem, foi lançada uma campanha global de desinformação e instilação terrorista do medo, pois uma população com medo não pensa nem reage, tornando-se dócil e facilmente manipulável. E assim se conseguiu que a humanidade, pelo menos até agora, estivesse estranhamente apática e paralisada, num torpor ignaro e desalentado, sem qualquer reação de peso enquanto a despojam dos seus direitos e da sua liberdade... Uma letargia provocada, pois, como dizia o irlandês Edmund Burke, “para que triunfe o Mal basta que os homens de Bem não façam nada. “
[4] Benjamin Franklin foi um político e cientista americano, nascido em Boston a 17 de janeiro de 1706 e morto em Filadélfia a 17 de abril de 1790, considerado
como um dos Pais Fundadores dos Estados Unidos.
[5] Os cenários descritos parabolicamente no filme “Matrix” poderão ser um exemplo de uma
humanidade ignorante de si mesma e do seu destino, dominada e energeticamente
consumida por seres que dela se alimentam e que, para isso, literalmente a
“cultivam”...
[6]
No original:
“O wonder!
How many goodly creatures are there
here!
How beauteous mankind is! O brave new world,
That has such people in't. “,
[7] Os irmãos Huxley (Julien Huxley foi o primeiro diretor da
UNESCO) procuraram influir na humanidade
do seu tempo, muito por influência do avô paterno, Thomas Huxley, biólogo e professor
universitário, defensor dos princípios de Darwin. Curiosamente, um dos
estudantes de Thomas Huxley foi H.G.Wells
e Aldous Huxley foi professor de
francês de George Orwell...
[8] George Orwell foi o pseudónimo do escritor e jornalista britânico Eric Arthur Blair, nascido a 25 de junho de 1903 em Motihari, Índia inglesa, e falecido em Londres a 21 de janeiro de 1950, cuja obra foi profundamente marcada pelas suas experiências pessoais. Os livros mais conhecidos que escreveu são O Triunfo dos Porcos (Animal Farm) publicado em 1945, logo após o desfecho da Segunda Guerra Mundial, e 1984, publicado em 1949, pouco antes da sua morte. Ambos são novelas extremamente críticas de todos os “ismos” totalitários que tanto fazem sofrer a humanidade.
[9] Setenta e um anos depois de da publicação de 1984 e do alerta sobre um Ministério da
Verdade que decidia se as notícias eram verdadeiras ou falsas segundo os
interesses do poder, o governo de coligação espanhol PSOE/Podemos anunciou já a instauração de um órgão similar para
controlar os media, depois de aprovar um protocolo contra as fake news. O presidente socialista Pedro Sanchez assegurou que eram
diretrizes da União Europeia.
[10] O libro de Orwell descreve irónica, mas tragicamente um
mundo no qual os fatos históricos foram suprimidos, tornando o passado
infinitamente manejável... A necessidade de apresentar o Partido como infalível
requeria uma constante e infinita mentira, destruindo as próprias recordações
dos cidadãos.
[12] Completando a versão integral do ULTIMATUM com a parte que ficou entre parênteses:
“ATENÇÃO!
Proclamo, em primeiro lugar,
A Lei de Malthus da Sensibilidade
Os estímulos da sensibilidade aumentam em progressão geométrica; a própria sensibilidade apenas em progressão aritmética.
Compreende-se a importância desta lei. A sensibilidade — tomada aqui no mais amplo dos seus sentidos possíveis — é a fonte de toda a criação civilizada. Mas essa criação só pode dar-se completamente quando essa sensibilidade esteja adaptada ao meio em que funciona; na proporção da adaptação da sensibilidade ao meio está a grandeza e a força da obra resultante.
Ora a sensibilidade, embora varie um pouco pela influência insistente do meio actual, é, nas suas linhas gerais, constante, e determinada no mesmo indivíduo desde a sua nascença, função do temperamento que a hereditariedade lhe infixou. A sensibilidade, portanto, progride por gerações.
As criações da civilização, que constituem o «meio» da sensibilidade, são a cultura, o progresso científico, a alteração nas condições políticas (dando à expressão um sentido completo); ora estes ó e sobretudo o progresso cultural e científico, uma vez começado — progridem não por obra de gerações, mas pela interacção e sobreposição da obra de indivíduos, e, embora lentamente a princípio, breve progridem ao ponto de tomarem proporções em que, de geração a geração, centenas de alterações se dão nestes novos estímulos da sensibilidade, ao passo que a sensibilidade deu; ao mesmo tempo, só um avanço, que é o de uma geração, porque o pai não transmite ao filho senão uma pequena parte das qualidades adquiridas.
Temos, pois, que a uma certa altura da civilização há de haver uma desadaptação da sensibilidade ao meio, que consiste dos seus estímulos — uma falência portanto. Dá-se isso na nossa época, cuja incapacidade de criar grandes valores deriva dessa desadaptação.
A desadaptação não foi grande no primeiro período da nossa civilização, da Renascença ao século XVIII, em que os estímulos da sensibilidade eram sobretudo de ordem cultural, porque esses estímulos, por sua própria natureza, eram de progresso lento, e atingiam a princípio apenas as camadas superiores da sociedade.
Acentuou-se a desadaptação no segundo período, que parte da Revolução para o século XIX, e em que os estímulos são já sobretudo políticos, onde a progressão é facilmente maior e o alcance do estímulo muito mais vasto. Cresceu a desadaptação vertiginosamente no período desde meados do século XIX à nossa época, em que o estímulo, sendo as criações da ciência, produz já uma rapidez de desenvolvimento que deixa atrás os progressos da sensibilidade, e, nas aplicações práticas da ciência, atinge toda a sociedade. Assim se chega à enorme desproporção entre o termo presente da progressão geométrica dos estímulos da sensibilidade e o termo correspondente da progressão aritmética da própria sensibilidade.
Daí a desadaptação, a incapacidade criativa da nossa época. Temos, portanto, um dilema: ou morte da civilização, ou adaptação artificial, visto que a natural, a instinctiva faliu.
Para que a civilização não morra, proclamo, portanto em segundo lugar,
A Necessidade da Adaptação Artificial
O que é a adaptação artificial?
É um acto de cirurgia sociológica. É a transformação violenta da sensibilidade de modo a tornar-se apta a acompanhar pelo menos por algum tempo, a progressão dos seus estímulos.
A sensibilidade chegou a um estado mórbido, porque se desadaptou. Não há que pensar em curá-la. Não há curas sociais. Há que pensar em operá-la para que ela possa continuar a viver. Isto é, temos que substituir a morbidez natural da desadaptação pela sanidade artificial feita pela intervenção cirúrgica, embora envolva uma mutilação.
O que é que é preciso eliminar do psiquismo contemporâneo?
Evidentemente que é aquilo que seja a aquisição fixa mais recente no espírito — isto é, aquela aquisição geral do espírito humano civilizado que seja anterior ao estabelecimento da nossa civilização, mas recentemente anterior; e isto por três razões: (a) porque, por ser a mais recente das fixações psíquicas, é a menos difícil de eliminar; (b) porque, visto que cada civilização se forma por uma reacção contra a anterior, são os princípios da anterior que são os mais antagónicos à actual e que mais impedem a sua adaptação às condições especiais que durante esta apareçam; (c) porque, sendo a aquisição fixa mais recente, a sua eliminação não ferirá tão fundo a sensibilidade geral como o faria a eliminação, ou a pretensão de eliminar, qualquer fundo depósito psíquico.
Qual é a ultima aquisição fixa do espírito humano geral?
Deve ser composta de dogmas do cristianismo, porque a Idade Média, vigência plena daquele sistema religioso, precede imediatamente e duradouramente, a eclosão da nossa civilização, e os princípios cristãos são contraditados pelos firmes ensinamentos da ciência moderna.
A adaptação artificial será portanto espontanente feita desde que se faça uma eliminação das aquisições fixas do espírito humano, que derivam da sua mergência no cristianismo.
Proclamo, por isso, em terceiro lugar,
A intervenção cirúrgica anti-cristã
Resolve-se ela, como é de ver, na eliminação dos três preconceitos, dogmas, ou atitudes, que o cristianismo fez que se infiltrassem na própria substância da psique humana.
Explicação concreta:
1. — Abolição do dogma da personalidade — isto é, de que temos uma Personalidade «separada» das dos outros. É uma ficção teológica. A personalidade de cada um de nós é composta (como o sabe a psicologia moderna, sobretudo desde a maior atenção dada à sociologia) do cruzamento social com as «personalidades» dos outros, da imersão em correntes e direcções sociais e da fixação de vincos hereditários, oriundos, em grande parte, de fenómenos de ordem colectiva. Isto é, no presente, no futuro, e no passado, somos parte dos outros, e eles parte de nós. Para o auto-sentimento cristão, o homem mais perfeito é o que com mais verdade possa dizer «eu sou eu»; para a ciência, o homem mais perfeito é o que com mais justiça possa dizer «eu sou todos os outros».
Devemos pois operar a alma, de modo a abri-la à consciência da sua interpenetração com as almas alheias obtendo assim uma aproximação concretizada do Homem-Completo, do Homem-Síntese da Humanidade.
Resultados desta operacão:
(a) Em política: Abolição total do conceito de democracia, conforme a Revolução Francesa, pelo qual dois homens correm mais que um homem só, o que é falso, porque um homem que vale por dois é que corre mais que um homem só! Um mais um não são mais do que um, enquanto um e um não formam aquele Um a que se chama Dois. — Substituição, portanto, à Democracia, da Ditadura do Completo, do Homem que seja, em si-próprio, o maior número de Outros; que seja, portanto, A Maioria. Encontra-se assim o Grande Sentido da Democracia, contrário em absoluto ao da actual, que, aliás, nunca existiu.
(b) Em arte: Abolição total do conceito de que cada indivíduo tem o direito ou o dever de exprimir o que sente. Só tem o direito ou o dever de exprimir o que sente, em arte, o indivíduo que sente por vários. Não confundir com «a expressão da Época», que é buscada pelos indivíduos que nem sabem
sentir por si-próprios. O que é preciso é o artista que sinta por um certo número de Outros, todos diferentes uns dos outros, uns do passado, outros do presente, outros do futuro. O artista cuja arte seja uma Síntese-Soma, e não uma Síntese-Subtracção dos outros de si, como a arte dos actuais.
(c) Em filosofia: Abolição do conceito de verdade absoluta. Criação da Super-Filosofia. O filósofo passará a ser o interpretador de subjectividades entrecruzadas, sendo o maior filósofo o que maior número de filosofias espontâneas alheias concentrar. Como tudo é subjectivo, cada opinião é verdadeira para cada homem: a maior verdade será a soma-síntese-interior do maior número destas opiniões verdadeiras que se contradizem umas às outras.
2. — Abolição do preconceito da individualidade. — É outra ficção teológica — a de que a alma de cada um é una e indivisível. A ciência ensina, ao contrário, que cada um de nós é um agrupamento de psiquismos subsidiários, uma síntese malfeita de almas celulares. Para o auto-sentimento cristão, o homem mais perfeito é o mais coerente consigo próprio; para o homem de ciência, o mais perfeito é o mais incoerente consigo próprio,
Resultados:
(a) Em política: A abolição de toda a convicção que dure mais que um estado de espírito, o desaparecimento total de toda a fixidez de opiniões e de modos-de-ver; desaparecimento portanto de todas as instituições que se apoiem no facto de qualquer «opinião pública» poder durar mais de meia-hora. A solução de um problema num dado momento histórico será feita pela coordenação ditatorial (vide parágrafo anterior) dos impulsos do momento dos componentes humanos desse problema, que é uma coisa puramente subjectiva, é claro. Abolição total do passado e do futuro como elementos com que se conte, ou em que se pense, nas soluções políticas. Quebra inteira de todas as continuidades.
(b) Em arte: Abolição do dogma da individualidade artística. O maior artista será o que menos se definir, e o que escrever em mais géneros com mais contradições e dissemelhanças. Nenhum artista deverá ter só uma personalidade. Deverá ter várias, organizando cada uma por reunião concretizada de estados de alma semelhantes, dissipando assim a ficção grosseira de que é uno e indivisível.
(c) Em filosofia: Abolição total da Verdade como conceito filosófico, mesmo relativo ou subjectivo. Redução da filosofia à arte de ter teorias interessantes sobre o «Universo». O maior filósofo aquele artista do pensamento, ou antes da «arte abstracta» (nome futuro da filosofia) que mais teorias coordenadas, não relacionadas entre si, tiver sobre a «Existência».
3. — Abolição do dogma do objectivismo pessoal. — A objectividade é uma média grosseira entre as subjectividades parciais. Se uma sociedade for composta, por ex., de cinco homens, a, b, c, d, e e, a «verdade» ou «objectividade» para essa sociedade será representada por
a+b+c+d+e
5
No futuro cada indivíduo deve tender para realizar em si esta média. Tendência, portanto de cada indivíduo, ou, pelo menos, de cada indivíduo superior, a ser uma harmonia entre as subjectividades alheias (das quais a própria faz parte), para assim se aproximar o mais possível daquela Verdade-Infinito, para a qual idealmente tende a série numérica das verdades parciais.
Resultado:
(a) Em política: O domínio apenas do indivíduo ou dos indivíduos que sejam os mais hábeis Realizadores de Médias, desaparecendo por completo o conceito de que a qualquer indivíduo é lícito ter opiniões sobre política (como sobre qualquer outra coisa), pois que só pode ter opiniões o que for Média.
(b) Em arte: Abolição do conceito de Expressão, sustituído pelo de Entre-Expressão. Só o que tiver a consciência plena de estar exprimindo as opiniões de pessoa nenhuma (o que for Média portanto) pode ter alcance.
(c) Em filosofia: Substituição do conceito de Filosofia pelo de Ciência, visto a Ciência ser a Média concreta entre as opiniões filosóficas, verificando-se ser média pelo seu «carácter objectivo», isto é, pela sua adaptação ao «universo exterior» que é a Média das subjectividades. Desaparecimento portanto da Filosofia em proveito da Ciência.
Resultados finais, sintéticos:
(a) Em política: Monarquia Científica, antitradicionalista e anti-hereditária, absolutamente espontânea pelo aparecimento sempre imprevisto do Rei-Média. Relegação do Povo ao seu papel cientificamente natural de mero fixador dos impulsos de momento.
(b) Em arte: Substituição da expressão de uma época por trinta ou quarenta poetas, pela sua expressão por (por ex.), dois poetas cada um com quinze ou vinte personalidades, cada uma das quais seja uma Média entre correntes sociais do momento.
(c) Em filosofia: Integração da filosofia na arte e na ciência; desaparecimento, portanto, da filosofia como metafísica-ciência. Desaparecimento de todas as formas do sentimento religioso (desde o cristianismo ao humanitarismo revolucion´srio) por não representarem uma Média.
Mas qual o Método, o feitio da operação colectiva que há de organizar, nos homens do futuro, esses resultados? Qual o Método operatório inicial?
O Método sabe-o só a geração por quem grito por quem o cio da Europa se roça contra as paredes ! Se eu soubesse o Método, seria eu-próprio toda essa geração! “