É O
que eu me sonhei que eterno dura,
É Esse que regressarei.
Fernando Pessoa
(Mensagem, poema
D. Sebastião)
Dom Sebastião
foi o sétimo rei português da Dinastia de Avis e aquele que, precipitou a perda
da independência nacional durante 40 anos, devida ao seu desaparecimento na
batalha de Alcácer Quibir, no norte de África, deixando o trono sem herdeiro.
Com o encerrar da Dinastia de Avis e a privação da independência, todo o
Portugal de então morrera, mas morrera como numa grande iniciação, na qual se
despojava de tudo para se lançar em busca de novas asas...
T C Como no mito do rei Artur (ferido
de morte numa batalha e conduzido à ilha de Avalon donde regressará um dia para
conduzir o seu povo numa nova era do mundo), também o regresso do rei Sebastião
é aguardado pelos portugueses. No entanto, no autêntico mito sebastianista,
como sucede com tantas lendas que utilizam a fantasia para mais facilmente
transmitir a ideia subjacente, o Cavaleiro Encoberto, figurado popularmente
pelo rei desaparecido, não será Dom Sebastião, mas um Outro Rei universal...
F F Fernando Pessoa aclara o
mistério, separando e distinguindo o sebastianismo histórico-popular do
sebastianismo espiritual, de que o primeiro constituiu, apenas, um esgar e assomo. Nessa sua
interpretação, Pessoa desvela que o Encoberto não será outro senão o Cristo
Redentor descrito pelo evangelista João no Apocalipse e esclarece, igualmente, o
objetivo final da Missão Lusíada: a preparação do mundo para aquela Segunda
Vinda.
Conforme o descrevem as Trovas do
Bandarra e os escritos de António Vieira e de Fernando Pessoa, os mais diretos
e objetivos entre muitas outras profecias, o palco inicial desse evento planetário
seria o território português. No entanto, tudo que envolvia esse projeto do Coração
lusitano foi paulatinamente esquecido e o país de Camões encheu-se de gente surda e endurecida, como disse o
próprio Poeta referindo-se ao seu tempo, mas cujo cenário se agravou, ainda
mais, na atualidade:
No’ mais, Musa, no’
mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida! ...
O favor com que mais se acende o engenho,
Não no dá a Pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.
Desse modo, esquecendo e até combatendo deliberadamente a memória dos seus
mitos e heróis, foi-se comprometendo, igualmente, a Missão Lusíada, cuja chama
se refletia no coração do povo através das Festas do Espírito Santo, que
constituíam uma espécie de Pentecostes português, correspondente ao advento da
Terceira Idade do Mundo, inaugurada pela chegada do Cristo Encoberto...
Contrariando a sua vocação e a sua História, aquela gente surda e endurecida levou Portugal a reboque da Europa e tudo se diluiu na atual
ofensiva do materialismo no mundo, de que o globalismo totalitário é a
expressão mais evidente, procurando impor uma ditadura mundial com a benção da cúpula da Igreja Católica – afinal, uma crosta desalmada ou um cascão do que
deveria ser o verdadeiro globalismo, de cariz espiritual e desde sempre sonhado
como uma era de fraternidade universal...
No entanto, prevendo tal desvio e garantindo, desde logo, o mantenimento da
chama da Missão Lusíada, foram mobilizados, desde o século XVI, alguns
espíritos iluminados, entre os quais, o próprio António Vieira, transferindo
para o Brasil toda aquela corrente lusa de expressão e de pensamento, hoje
fortemente enraizada em todo o país. Terá sido o primeiro arremedo de
transposição do Coração do Portugal europeu para o outro Portugal
sul-americano...
***
Um livro do médium Chico Xavier[1]
refere o Brasil como Coração do Mundo
e Pátria do Evangelho. Devo
esclarecer que não sou adepto do espiritismo, mas reconheço a honestidade e a
qualidade de muitas intervenções de Chico Xavier, que lhe granjearam,
igualmente, o respeito dos mais diversificados quadrantes espirituais e
culturais brasileiros. Desse modo, e por retratar de um outro ponto de vista o
espírito daquilo que também defendo, refiro em seguida, muito resumidamente, o conteúdo
do livro.
A descrição
inicia-se com o profundo desgosto do Cristo Jesus, numa visita periódica à Terra, ocorrida no século XIV, ao verificar o
seguimento dos desmandos perpetrados no mundo pela cristandade, ainda por cima
em Seu nome. Percorrendo toda a face da Terra, o grande Senhor chega, então, à
atual América do Sul e ao espaço mais tarde ocupado pelo Brasil, onde, finalmente, exclama: – Para
esta terra... será transplantada a árvore do meu Evangelho de piedade e de
amor. No seu solo... todos os povos da Terra aprenderão a lei da fraternidade
universal.... Aqui, sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará
localizado o coração do mundo!
Esse Coração terreno ali
estabelecido, precisou, depois, de ser apresentado a toda a humanidade,
mediante a ligação do Velho ao Novo Mundo e essa incumbência foi entregue aos
portugueses através do Infante Henrique de Sagres, iniciando a gesta dos
Descobrimentos. E da mesma forma foi confiada ao povo lusitano a guarda particular
daquela descoberta de Cabral, mantendo-o como um território uno e indivisível.
O milagre da preservação territorial e do espírito de nação, ao contrário
do que sucedeu com a restante América latina, retalhada em fatias de países
conforme os apetites dos ditadores de serviço, só foi possível com a presença
da Coroa portuguesa, empurrada por Napoleão para o Novo Mundo. Posteriormente, foi
também um príncipe português – Dom Pedro I – quem protagonizou a independência da nova nação, conduzida
exemplarmente e sem qualquer derramamento de sangue, ao qual sucedeu seu filho,
unanimemente reconhecido como um dos maiores vultos humanos e espirituais do
seu tempo: Dom Pedro II.
O livro termina com a chegada problemática da República, onde se iniciam os
novos desafios e provações do Coração do
Mundo. E, de fato, o Brasil, agora uma enorme potência emergente, é o alvo
principal da Sombra autoritária ou da cobiça globalista que já domina grande
parte do mundo e que pretende, desesperadamente, apossar-se do seu Coração.
A resposta poderá ocorrer já nos próximos meses, com a chegada ao Brasil de
um Coração, não simbólico, mas tão real quanto o corpo que anteriormente
habitava. Trata-se, nem mais nem menos, do coração de Dom Pedro I, preservado
desde a sua morte na cidade portuguesa do Porto e que voltará ao Brasil para
estar presente nas comemorações do bicentenário da Independência[2].
Um ato que poderá revestir-se de um alcance extraordinário, muito para além do significado
emblemático mais imediato.
E, aqui, voltamos a Dom Sebastião e aos versos decifradores de Fernando
Pessoa:
É O que eu me sonhei
que eterno dura,
É Esse que regressarei.
Ou seja, o coração que, agora, retorna
ao Brasil, poderá não ser já o coração do seu primeiro imperador, mas sim a
encarnação do Sonho que envolve o país que ele proclamou independente – um país
destinado a ser o recanto planetário do
qual se enxerga, no infinito, o símbolo da redenção humana. Pouco importa se Dom Pedro sonhou,
conscientemente, esse mesmo Sonho, pois foi uma ação sua o instrumento que lhe
permitiu a continuidade; ou vice-versa, pois, na verdade, foi o Sonho que lhe
permitiu a ação.
Fernando Pessoa explica muito bem, o
caso similar do Conde Dom Henrique, responsável pelo surgimento ulterior de
Portugal:
Todo
o começo é involuntário.
Deus
é o agente.
O
herói a si assiste, vário
E
inconsciente.
À
espada em tuas mãos achada
Teu
olhar desce.
“Que
farei eu com esta espada? ”
Ergueste-a
e fez-se.
Talvez se possa dizer, então, que a espada erguida pelo Conde Dom Henrique
no Condado Portucalense, em pleno século XI, tem o mesmo significado da espada
desembainhada por Dom Pedro na margem do Ipiranga, a 7 de setembro de 1822. E é
esse significado ou Sonho inconsciente que poderá regressar ao Brasil, duzentos
anos depois, envolvido na aura daquele Coração. Um Coração irradiando a sua Luz
e, desse modo, evitando que o país caia nas mãos dos neocolonialistas da Sombra.
De fato, por muito apetecíveis que sejam os seus infindáveis recursos naturais, o aspecto mais cobiçado pelo poder por detrás dos poderes da rede
globalista é a condição espiritual do Brasil, já definida como a Pátria do Avatara, o Berço da Nova Civilização ou, como se
viu, o Coração do Mundo. Por isso é tão importante a sua manutenção
como índice da Liberdade e da emancipação psíquica e espiritual do ser humano.
Sendo assim, o mais premente grito da atualidade, não somente no Brasil, mas
em toda a face da Terra, terá que ser, novamente:
INDEPENDÊNCIA OU MORTE
(espiritual)!
Valete, Fratres.