11 de ago. de 2013

O CAMINHO ("Prisciliano Ressuscitado" - Capítulo 1)


           

                         “No final do caminho está a liberdade. Até lá, paciência. ”                                                                         Siddharta Gautama
A Ibéria sempre foi um viveiro de estrelas.                                 
Dizem lendas e tradições milenares que as consciências celestes, do mais alto do firmamento, projetaram a sua energia em vários lugares da Península Ibérica que, por isso, se tornaram mágicos. Também a derramaram sobre determinadas individualidades, que passaram a refletir aquela mesma luminosidade à sua volta e se transformaram em referências de mudança civilizacional. Por isso, há quem diga que, ao acender-se uma consciência na Terra se apaga uma estrela no céu...

Os mistérios sagrados das várias Tradições mundiais referem aquelas projeções e reflexos de estrelas na Terra, bem como os seus ensinamentos perdidos na vertigem do tempo e que poderão conduzir o homem comum a esse estado primordial de felicidade e de consciência. O processo que leva à sua identificação e vivência plena é a Gnose. No Oriente, chamam a esse elo indefinível e inominável de Tao, que também poderá ter o significado, mais limitado e circunscrito, de Caminho.
Na Ibéria destaca-se um percurso milenar, ou Caminho, que atravessa todo o norte peninsular e que se denomina, muito apropriadamente, de Caminho das Estrelas, em referência à Via Láctea que lhe serve de teto.
O próprio nome de Compostela, meta oficial daquele Caminho mágico, e que deriva do latim “Campus Stelae”, pode significar “Campo da Estrela”.
A representação, ou mesmo a encarnação da sabedoria das estrelas na Terra tornou-se cada vez mais rara, pelas vicissitudes do mundo moderno, mas nem sempre foi assim. No que respeita à Ibéria, decorria o séc. IV quando uma delas iluminou intensamente o território da Galiza, manifestando-se no gnóstico Prisciliano. Mas ao tentar restaurar os valores e a pureza do Cristianismo primitivo, Prisciliano acabou decapitado por aqueles que não puderam suportar o seu brilho...

Algo semelhante se passou com a totalidade do próprio Caminho das Estrelas, depois conhecido mundialmente como Caminho de Santiago.
Em tempos imemoriais, esse Caminho havia já sido implantado no terreno pela Gnose, ou pelo Tao. Mas quando o poder que eliminou Prisciliano se apropriou do Caminho, logo o tentou descontaminar de todo o gnosticismo, para melhor o adaptar aos seus interesses. No entanto, a sua essência profundamente gnóstica permaneceu e continuou bem viva, ainda que, agora, flua somente pelo leito subterrâneo ou oculto do Caminho.

CABEÇA

As mesmas tradições antigas referem-se à Europa como senhora de um corpo geográfico-simbólico, em que a cabeça é figurada pela Península Ibérica. Mas essa é também uma forma de indicar que ali se encontra um centro elevado de consciência espiritual.
Dando voz a uma tradição antiga, os poetas portugueses Fernando Pessoa e Luis de Camões coincidem em reafirmar que a Europa, representada antropomorficamente como um corpo régio, tem como cabeça a Península Ibérica. Escreveu Camões nos “Lusíadas”, referindo-se à Península Ibérica pelo seu nome antigo de “Hispania” (ou “Espanha”):  
“Eis aqui se descobre a nobre Espanha,
Como cabeça ali da Europa toda...”  

E, mais adiante, especifica: 

“Eis aqui, quase cume da cabeça
 Da Europa toda, o Reino lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa...”
 
Fernando Pessoa retoma esta linha de pensamento na sua “Mensagem”, assinalando que a Europa: 

“Fita com olhar esfíngico e fatal 
O Ocidente, futuro do passado.  


O rosto com que fita é Portugal. ” 

Essa “cabeça ibérica da Europa” contém a soma de vários outros vórtices de energia espalhados pela Península: na Galiza e no resto da Espanha destacam-se aqueles que conformam e animam o Caminho de Santiago e, em Portugal, os que potenciam a herança sagrada da Tradição Lusitana, refletida no mito do Quinto Império.

Ou seja, a Gnose ou o Tao, como fonte que irriga continuamente o Caminho de Santiago, terá sido quem colocou, na Ibéria, centro de consciência ou cabeça da Europa, a pedra angular do Quinto Império.
Já vimos que, por Quinto Império, se referem os portugueses ao surgimento de um período da História correspondente ao “Millennium” do Apocalipse, em que prevalecerão os valores do Espírito e onde será erradicado o "mal" como ignorância, assim como o egoísmo, a intolerância e a prepotência, que proliferam nas atuais culturas do medo. Mais adiante se esclarecerá melhor esta suposta utopia, apoiada e desenvolvida nos tempos modernos pelo mesmo Fernando Pessoa e por filósofos como Agostinho da Silva, que alargou a Península Ibérica ao “Portugal do outro lado do mar, que os brasileiros chamam de Brasil”... Mas o que importa ressaltar é que dessa simbiose ibero-americana resultou um sangue renovado e fresco, que poderá, agora, revitalizar a cabeça. E uma das principais veias condutoras desse sangue novo é, precisamente, o Caminho das Estrelas.
De facto, cada vez mais pessoas, a nível mundial, se interessam e se lançam no antigo caminho peninsular, acreditando que é possível o sonho da mudança: mudança de vida, mudança de valores, mudança de critérios, mudança, enfim, do estado do seu próprio mundo ou a libertação dos pesos que carregam, que será a maior de todas as mudanças e que influirá, decisivamente, na mudança do mundo colectivo...

Deste modo, despertando antigos valores que poderão restaurar um estado de consciência, e prosseguindo o percurso interno e libertador de homens como Prisciliano, a Ibéria poderá, um dia, voltar a ser um campo de estrelas...

LEVEZA
A primeira coisa que qualquer peregrino aprende no Caminho de Santiago é a condição essencial de não caminhar sobrecarregado. Do mesmo modo, ao iniciar-se esta outra caminhada, é igualmente imprescindível retirar da nossa mochila interior toda a carga a mais; sobretudo, aquela que ali não foi colocada por nós.
Refiro-me às crenças, aos dogmas, aos anátemas e aos tabus, impostos pelos poderes que controlam a sociedade, a ciência e as religiões e que, de tal modo nos foram inculcados como “a realidade” que não damos pelo peso brutal que carregamos às costas…
Por isso, para além de interpretarmos inúmeras passagens da História ao contrário, encaramos também a Pré-História como um longo período de obscurantismo cultural. Mas já vem sendo altura de, pelo menos, admitirmos que o obscurantismo poderá estar em nós, na nossa atitude, no nosso olhar condicionado, ainda incapaz de abarcar o legado assombroso de uma cultura desconhecida.
Então, sem pesos indesejáveis e com o espírito aberto, abordaremos questões complexas ligadas ao surgimento do Caminho, como a que se prende com a lembrança de uma Época de Ouro, algures no passado mais remoto da humanidade, desaparecida num desastre de amplitude cósmica... Sim, a Atlântida, referida por Platão, mas sempre relegada para o domínio da fantasia. No entanto, é o mito que mais se encontra gravado na memória coletiva e inconsciente dos povos... Outra questão fundamental liga-se com a Suméria, essa sim bem real e palpável, mas cujos documentos entretanto descobertos, e que colocam em causa toda a história oficial da humanidade, são praticamente ignorados, ou melhor, criteriosamente silenciados por quem pretende manter tudo na mesma.
Efetivamente, o que seria do mundo se o homem começasse a pensar por si mesmo, em vez de pensar como foi ensinado a pensar, utilizando formulas e conceitos que não são os seus, mas que constituem as balizas do seu comportamento?
Vivemos numa época onde só o pensamento racional conta. E o poder que nos governa, mantendo o mundo tal como está (isto é, sob o seu domínio) serve-se dessa condição para injetar o pensamento "racionalmente correto" que mais lhe convém.
No passado não era assim. O homem, apoiado pelas Religiões dos Mistérios, regia-se, sobretudo, pelos valores do espírito, a que acedia diretamente pelos canais que desenvolvia em si mesmo como, por exemplo, a intuição, que representa a inteligência espiritual. Claro que também se servia do mental racional para explorar disciplinas como a filosofia, a matemática, a astronomia ou as ciências que o levaram a tantas realizações e construções fabulosas; o racionalismo era um meio, um instrumento deveras precioso, mas um instrumento apenas – a mente era a servidora do homem e não a senhora absoluta ou a ditadora implacável em que hoje se transformou. Por isso surgiram dogmas e tabus, vedando o acesso a explicações que estavam para além da mente racional; por isso a ciência positivista tomou um papel preponderante, destronando todos os laivos da espiritualidade antiga.
Mas o mais desconcertante é que as religiões adotaram um procedimento semelhante, pois elas mesmas se eivaram de dogmas e obediências cegas, num esquema racional e material de conquista de poder...

REDESCOBERTA
O extraordinário desenvolvimento da ciência e da tecnologia modernas transmite continuamente a ideia de que o homem de hoje ultrapassou tudo o que havia conseguido no passado. Mas será isso que sucede, como coisa nova e nunca vista?... Ou será que o homem começou, agora, a recuperar o nível de conhecimentos que detinha anteriormente?... Porque essa é a grande questão: os avanços e as invenções de agora serão verdadeiramente novos ou corresponderão, antes, à redescoberta de um conhecimento já detido por civilizações anteriores?
Se assim for, poderemos perceber, cada vez melhor, as nossas origens, a nossa verdadeira História e, ao saber de donde provimos, também poderemos ter uma ideia, cada vez mais nítida, de quem somos, individual e coletivamente.
Então, neste Caminho de peregrinação pelos alvores da humanidade teremos, inevitavelmente, que ir ao encontro da primeira grande cultura que plasmou e deixou gravados em milhares de placas de argila e rolos cilíndricos os seus relatos sobre a história do homem: a Suméria.
A Suméria fazia parte do território que hoje conhecemos como Iraque. Daí que sejam legítimas as maiores dúvidas sobre os motivos que levaram os EUA a invadirem aquele país e a tomarem posse de tudo o que ele contém... Sim, porque o acesso ao Conhecimento é o verdadeiro e mais valioso desiderato, deixando o objetivo aparente do petróleo a perder de vista…

SUMÉRIA
Situada entre os rios Tigre e Eufrates, a Mesopotâmia foi o berço da Suméria, descrita como o lugar do Éden bíblico. Surgida, mais ou menos, há uns 6.000 anos (ou seja, por volta de 4.000 a.C.), tornou-se na primeira civilização conhecida, sendo-lhe atribuídos os mais elevados índices de cultura e desenvolvimento, que serviram de base a todas as demais civilizações e culturas da Terra.
No séc. XIX, quando a arqueologia descobriu por debaixo das areias da Mesopotâmia e da Síria, milhares de placas de argila e de cilindros, totalmente gravados, com registos referentes à época dos patriarcas bíblicos e a outros períodos muito anteriores, o mundo deveria ter rejubilado. Mas o mundo não soube e continua, maioritariamente, a não saber de nada.
Nem a querer saber.
No entanto, a existência desses relatos escritos, cuja publicação só veio a lume na segunda década do séc. XX (sempre discretamente e com propositada sobriedade noticiosa), evidencia que alguns deles constituiram, nada mais nada menos, do que o fundamento de que se serviram, mais tarde, os hebreus para escreverem o Génesis! O porquê desta “discrição compulsiva” reside no facto dos relatos descobertos se revelarem, de facto, como fontes do Antigo Testamento, mas, em inúmeras passagens, se mostrarem muito diferentes da escritura canónica aprovada.
A este propósito, escreve Laurence Gardner no seu livro “A Estirpe do Santo Graal”: “Os relatos históricos eram familiares, e os personagens e os lugares facilmente reconhecíveis como protótipos integrantes do Antigo Testamento, mas os diversos conteúdos eram tão diferentes da escritura aprovada que a sociedade doutrinada e as autoridades que a governavam se sentiram imediatamente ameaçadas. ”
Foi assim que saltaram os alarmes dos poderes religiosos e políticos, seus aliados, que tudo fizeram para manter esta informação longe da sociedade por eles controlada. Mas nem sequer foi necessário um grande esforço, pois a sociedade preferiu manter-se sob a segurança de uma descrição histórico-religiosa conhecida, em vez de encarar factos que poderiam fazer ruir os pilares onde ela, comodamente, se apoia.
Resultado: o dogma não só sobreviveu como acabou por se impor a toda a evidência documental, e aquela versão da história bíblica, oficialmente reconhecida e aprovada, continuou a ensinar-se e a invocar-se em escolas e igrejas...

ADÃO
A Mesopotâmia representava já uma vanguarda civilizacional desde há uns 10.000 anos a.C., mas foi quando a sua região sul se destacou como Suméria, por volta do ano 4.000 a.C., que ali se produziu um repentino e acentuado avanço cultural e civilizacional, acompanhado por uma inacreditável revolução técnica, que adiantou a sociedade suméria em milhares de anos face ao processo natural de desenvolvimento.
Se atendermos às condicionantes deste processo natural, ligado às teorias evolucionistas de Darwin, poderemos constatar que o homem demorou cerca de um milhão de anos para perceber que podia fragmentar e afiar as pedras; que foram precisos mais quinhentos mil anos para que as transformasse, deliberadamente, em instrumentos de trabalho, e outros cinquenta mil para que descobrisse a metalurgia e os rudimentos da agricultura. Isto prova que as conquistas que marcaram a evolução do homem foram sempre muito lentas e difíceis e que nessa lentidão, própria de cada passo, decorreram ciclos inteiros pré-históricos. Mas, de súbito, dá-se um salto inexplicável na evolução, com o surgimento, aparentemente espontâneo, do homo sapiens e outro salto, ainda mais fabuloso, quando se chega à Suméria, terra de Adão.
Ali, inexplicavelmente para as leis observadas pelo processo natural, terá ocorrido algo misterioso que rompeu esse processo, deixando os historiadores académicos estupefatos e os darwinistas perdidos.
Segundo a evolução natural, o homem de hoje teria forçosamente que ser o que ainda são algumas tribos de África e da Austrália e a sua elite civilizacional estaria, ainda, a uma larguíssima distância da mais elementar compreensão da matemática… Mas o que quer que tenha sucedido na Suméria, permitiu que o homem, apenas 6.000 anos passados, se lançasse na conquista do espaço!...
O que terá quebrado a cadeia natural e se encontra por detrás de tudo isto? Seja ou não oficialmente admissível, as placas sumérias respondem a esta questão.

MISTÉRIO
Entre os diversos investigadores especializados na Suméria, permito-me destacar o autor das “Crónicas da Terra”, Zecharia Sitchin. Não porque compartilhe todas as suas conclusões, mas porque, corajosamente, foi dos primeiros em apresentá-las como uma História alternativa da humanidade. E, mais uma vez, com origem nas estrelas...
Ilusão? Interpretação livre e abusiva?... É certo que Sitchin por vezes supõe e romanceia, mas parte sempre de uma base sólida, coerente e fundamentada. Aliás, muitos dos documentos em que se baseia são exibidos, hoje em dia, nos maiores museus do mundo. E, apesar de tudo, não será indispensável conhecer a escrita cuneiforme, pois os registos não só estão traduzidos por outros investigadores de renome, como a simbologia gravada em inúmeros baixos relevos é também deveras eloquoente...
Relata Sitchin, no “Génesis Revisitado”, que os textos cosmológicos, astronómicos e históricos dos sumérios referem a existência de mais um planeta no nosso Sistema Solar, a que chamam Nibiru, e cuja órbita passa entre Marte e Júpiter a cada 3.600 anos. E acrescenta: “Os textos sumérios repetem, insistentemente, que foi desde esse planeta que os Anunnaki vieram à Terra. Este termo traduz-se, literalmente, como “Aqueles que do Céu à Terra Vieram”. A Bíblia a eles se refere como os Anakim e, no capítulo 6 do Génesis, também lhes chama Nefilim que, em hebreu, significa o mesmo: "Aqueles que baixaram do Céu à Terra".
Segundo as fontes sumérias, foram os Anunnaki que ensinaram tudo o que lhes permitiu tornarem-se num modelo de civilização. Mas, muito mais do que isso, foram os Anunnaki que utilizaram a manipulação genética e determinadas técnicas de fertilização in-vitro para criarem o primeiro homo sapiens, a partir do homem primitivo de então. Deste modo, se a interpretação corresponder ao que se encontra nas placas, aquilo que os escribas sumérios nos transmitiram foi, nada mais nada menos do que a solução do enigma do “elo perdido”, resolvido desta forma desconcertante!
Mas será tão desconcertante assim?...
A presença extraterrestre na Suméria, completamente às claras e que terá levado à transformação do genoma humano, permite colocar uma série infindável de questões como esta: os Anunnaki foram os únicos que desceram do Céu à Terra, ou muitos outros Nefilim os precederam ou seguiram? Isto é, existirão, de fato, hierarquias desconhecidas de seres oriundos de outros pontos do universo que mantiveram (ou mantêm ainda, ocultamente) algum tipo de contato com a civilização humana? .... Há quem diga veementemente que sim, e que estas questões, por muito que choquem a sociedade totalmente manipulada em que vivemos, não surpreendem os verdadeiros poderes que a governam; e, até, que não estará longe o dia em que serão desvelados muitos desses segredos...

ADN
Como se disse, as placas sumérias relatam que seres desconhecidos, oriundos das estrelas, vieram numa expedição à Terra, há cerca de 500.000 anos atrás, e terão sido eles que transformaram o homem autóctone de então no homo sapiens. Mais tarde, aquele protótipo humano foi substancialmente melhorado pelos mesmos Anunnaki, com a criação do Adão bíblico e essa melhoria extraordinária da raça refletiu-se no esplendor civilizacional da Suméria, onde o homem novo experimentou uma convivência determinante com os seus criadores...
 A esse novo protótipo humano correspondeu, evidentemente, um novo código genético, onde terá ficado registada uma espécie de “memória do ato”, assim como o conhecimento completo da sua constituição humana e espiritual; ou seja, acerca do ser espiritual que anima e utiliza o veículo humano. Portanto, logo à partida o homem terá sido pré-definido como um buscador de si próprio... Então, o seu maior desafio será o de percorrer um caminho interno, enfrentando o conflito entre a luz e a escuridão do seu próprio ADN, até atingir e tomar posse do conhecimento que leva guardado dentro de si, chegando à sua identidade espiritual.
Mais tarde, para auxiliar o homem a reconhecer e a cruzar esse caminho de autodescoberta, foram estabelecidos os Mistérios Iniciáticos. Com o passar dos séculos e o desaparecimento das Escolas de Mistérios, aquele caminho de dentro veio a deter várias outras expressões pelo lado de fora, transformando-se, paulatinamente, nos vários caminhos de peregrinação existentes no mundo.
Por isso, é tão importante percorrer um caminho de fora virado para dentro e nele esgotar o cansaço físico e mental, renovando e transmutando energias, com a espiritualidade como meta. E se esse caminho existir desde a mais profunda antiguidade, congregando os esforços e as experiências de todos os peregrinos que o percorreram ao longo de tempos sem fim, o seu valor será incalculável.
Será uma rota verdadeiramente sagrada.
Atualmente, não existem muitos caminhos desses no mundo. Um deles, porventura o mais importante dos nossos dias, é o que conhecemos como o Caminho de Santiago!

ATLÂNTIDA
Já referi que a outra questão que se liga com as origens mais remotas do Caminho de Santiago é a que se refere ao continente perdido da Atlântida, ainda que a história oficial a remeta para o domínio da fábula. No entanto, é uma questão que permanece em aberto e que poderá, a qualquer momento, ser comprovada, tal como sucedeu com o mistério da Suméria.
 Pelas datas envolvidas, o homem paleolítico deveria ter sido contemporâneo desse mítico continente, ainda que vivendo na sua periferia. E nessa situação de contacto esporádico, teriam sido os atlantes que impulsionaram fortemente o seu progresso, com consequências bem assinaladas pelos historiadores. No entanto, a história oficial, mais uma vez, continua sem entender como foi possível, ao homem do Cro-Magnon, por si só, ter dado um passo enorme na sua evolução num curto espaço de tempo. Mas se a Atlântida fosse uma fantasia, quem mais o teria feito? ...
 Tal como, hoje em dia, um cientista de topo da NASA habita na mesma época em que um selvagem atira setas nos confins da África, assim o homem atlante, de cultura infinitamente superior, poderia ter vivido na época em que, noutra parte do mundo, lutavam pela sobrevivência os homens primitivos do Paleolítico Superior. E como também sucede nos nossos dias, em que o mundo civilizado envia expedições científicas e humanitárias aos lugares mais recônditos e atrasados do planeta, também os atlantes, nas suas deslocações por outras zonas do globo, terão contatado aqueles povos primitivos, a quem ensinaram técnicas e conhecimentos que impulsionaram decisivamente o seu progresso...
Não existem sinais evidentes desse contato no período seguinte, o Mesolítico, devido às grandes e profundas transformações na estrutura geológica e climatérica da Terra. Ou por outras palavras mais concludentes: o contato terá sido interrompido devido ao afundamento da Atlântida.
Mas, no final desse período Mesolítico surgiram, em inúmeras vertentes atlânticas, restos e sinais de uma civilização muito superior à autóctone, provavelmente também afetada pelos referidos cataclismos geológicos. E os historiadores continuam sem a poder explicar…
É certo que não existem provas materiais que atestem a realidade da Atlântida, mas também não é possível afirmar categóricamente que ela nunca existiu. E aqueles que pensam que, outrora, o continente atlante fez parte da face da Terra, podem sentir o apoio confortável do grande Platão, que nos seus diálogos “Timeu" e "Crítias” refere a existência da Atlântida, revelada a Sólon por sacerdotes egípcios. Também a Teosofia, pela voz de Helena Blavatsky, se debruça sobre a questão da Atlântida assinalando, inclusive, que terá sido há cerca de 800.000 anos que se afundou a sua parte mais extensa, tendo restado apenas duas ilhas, Rutha e Daitía (que correspondem, atualmente, às ilhas espanholas das Canárias e às portuguesas dos Açores). Passados 600.000, anos teria ocorrido o afundamento de uma outra parte, deixando a Atlântida reduzida a uma só grande ilha, com o nome de Poseidónis. Essa ilha mantinha uma ligação com Gades (a actual Cádiz, no sul de Espanha) através de uma cadeia de ilhas menores. Refira-se que foi esta última ilha atlante – Poseidónis – que Platão referiu nos seus diálogos.
Finalmente, mais ou menos 200.000 anos depois (correspondendo a cerca de 10.000 antes da era cristã), terá sucedido o desastre definitivo, com o afundamento de Poseidónis. Esse cataclismo poderá ter provocado a abertura do atual estreito de Gibraltar, com a separação e o levantamento das Colunas de Hércules.
A Atlântida desaparecia, assim, da face da Terra.

SOBREVIVENTES
Mas mesmo tratando-se de um cataclismo cósmico, poderão ter existido sobreviventes: homens e mulheres atlantes que, avisados, tomaram os seus barcos e largaram a tempo da ilha de Poseidónis, rumando a lugares seguros que conheciam de viagens anteriores.
Os sobreviventes da Atlântida confundem-se, muitas vezes, com a versão multiplicada do Noé bíblico. No entanto, haverá uma diferença entre o cataclismo geológico que provocou o afundamento da Atlântida e aquele outro fenómeno que a Bíblia descreve como o Dilúvio, que só terá sucedido alguns milhares de anos mais tarde, numa parte da Suméria dirigida pelos Nefilim.  Mas esta é uma questão que tem confundido os investigadores mais especializados.
Apenas uma outra referência sobre o tema, uma vez que não constitui a investigação central deste livro: a Sabedoria das Idades refere uma 4ª Raça Mãe da humanidade (que em tudo se associa com a Atlântida), senhora de um grau de civilização e de uma ciência e tecnologia incomparáveis, a ponto de dominar inúmeros segredos do universo e haver mantido contato com seres de outros planetas. Será, então, que os atlantes se terão relacionado com os Anunnaki, ou com outros Nefilim desconhecidos, ou se terão mesmo confundido com eles no inconsciente coletivo da humanidade? ...
Seja como for, uma boa parte dos sobreviventes atlantes terão atingido as costas da atual ibéria e permanecido na frente atlântica europeia, transformados em deuses pelos povos primitivos que os receberam. Com o decorrer dos milénios, uma outra parte passou para o norte de África e foi estabelecer-se a Oriente, nas zonas férteis dos grandes rios como o Nilo, o Tigre e o Eufrates, e o Indo.
Foi assim que a Pré-História deu, oficialmente, lugar à História, com o arranque das primeiras e mais importantes civilizações reconhecidas: Egito, Suméria e Mohenjo Daro, na Índia. Estava-se, mais ou menos, no ano 4.000 antes da era cristã.

MAR
Do mesmo modo que os atlantes que vieram do mar ocuparam um lugar de destaque na mitologia dos povos que os receberam, as suas embarcações também se converteram em objetos de culto. Por isso, navegar, cruzar o mar ou penetrar ousadamente nos seus mistérios como fizeram, muito mais tarde, os navegadores portugueses, converteu-se numa arte de iniciados. Acrescente-se que, ainda hoje, os corpos arquitetônicos das igrejas cristãs se chamam “naves”.
A este propósito, escreveu Juan Atienza no seu livro “Os Sobreviventes da Atlântida”: “Ao longo dos séculos, a barca – e, por conseguinte, quem a ocupa-, converter-se-á em símbolo de iniciação. Simão Pedro aparecerá nos Evangelhos como pescador e será o portador da chave. Lohengrin, o Cavaleiro do Cisne da mitologia germânica, chegará numa barca desde um lugar desconhecido. O próprio corpo do apóstolo Santiago chegará a Iria Flávia noutra barca, lançada sem rumo pelos seus discípulos no oriente mediterrânico. Essa barca terá percorrido, apenas com a força do sopro divino, a rota do Sol, originando, com a sua mítica chegada às costas galegas, o indício mais evidente – a mais diáfana chamada de atenção – sobre uma das peregrinações mais constantes e controvertidas da História. ”
A chegada dos barcos atlantes às costas da Ibéria, levando as sementes de um conhecimento superior e, portanto, de um desenvolvimento civilizacional a todos os níveis, foi perpetuada ao longo de eras sem fim e a sua memória, ainda que distorcida, deu origem a inúmeras peregrinações e romarias, precisamente nos lugares que mais adentravam aquele mar: os cabos ocidentais da Península Ibérica, que se converteram em lugares de culto e de iniciação.
De facto, ainda hoje, em muitos cabos das costas de Portugal e da Galiza (a vertente atlântica europeia) se celebram festas e romarias de temática religiosa-marítima, como sucede nos cabos Espichel e da Roca, em Portugal, e no cabo Finisterra, na costa galega, onde os romanos diziam que terminava o mundo e onde termina, verdadeiramente, o Caminho terrestre de Santiago.
Entre a cidade de Santiago e o cabo Finisterra fica a ria de Nóia e, no seu início, encontra-se a vila que lhe dá o nome. Um nome que recorda a presença de um “Noé”, sobrevivente a um cataclismo que a tradição local classifica como o Dilúvio. Diz a mesma tradição que aquela povoação foi originalmente fundada por Noela, uma filha do Patriarca Noé, ali aportado com a sua Arca que poderá estar enterrada, algures, na serra limítrofe da Barbanza. Aliás, sobre o actual escudo de Nóia pode ver-se uma imagem da mesma Arca, imortalizada pelo Antigo Testamento.
                  
Esta Nóia galega, centro ideal de uma área onde se encontram a maior parte dos numerosíssimos dólmens e petróglifos de uma Galiza sagrada, fica apenas a 30 Km da cidade mágica de Santiago de Compostela, também ela ligada à obtenção de conhecimentos ocultos. E que, segundo a lenda, por via de um ser que, mesmo morto, também chegou à costa galega por mar…

A crença em seres marinhos, descendentes dos tritões e surgindo nas praias encantadas da Galiza, foi sempre uma constante na tradição popular local e dela nos dá conta, já em 1570, António Torquemada, nas páginas do seu livro “Jardim de Flores Curiosas”. Também não deixa de ser curioso que a fonte mais famosa de Santiago, situada na praça das Platerias, junto à entrada sul da catedral, tenha quatro grandes Cavalos Marinhos rodeando a figura do apóstolo Santiago, como uma "Quinta Coisa" surgida do mar e tendo por cima da cabeça uma estrela...

ARQUIVO
 Toda a Galiza, como sucede com uma boa parte de Portugal, está coberta de monumentos megalíticos, assinalando o percurso intraterreno das veias telúricas do planeta. O que pressupõe um conhecimento deveras assombroso (e, em muitos casos, acima do atual!) por parte dos povos que os erigiram, classificados como primitivos e arquivados na gaveta ainda indefinida da Pré-História. Mas a Pré-História não tem que ser “pré” de nada, como um documentário antes do filme principal, porque, em si mesma, constitui uma verdadeira e maravilhosa História, tão ou mais rica em acontecimentos transformadores da humanidade quanto a outra que se lhe seguiu. Portanto, Sitchin tem razão quando afirma que o verdadeiro enigma não radica no retrógrado das sociedades primitivas, mas no nosso próprio progresso…
Todos sabem que os Templários, herdeiros daquele conhecimento ancestral, se ofereceram para ajudar os reinos cristãos na Reconquista da Península Ibérica aos árabes. Mas o que se sabe menos é que, como troca da sua ajuda, solicitavam a posse de certos lugares, criteriosamente escolhidos por antecipação. Na verdade, eram lugares associados a centros de cultura megalítica! ... Foi assim que os Templários se instalaram na península e se tornaram nos principais defensores do Caminho de Santiago.
Já foi explicado que esse Caminho não era de Santiago, nem pertencia a nenhuma Igreja, mas sim a todos aqueles que buscavam o conhecimento. Perdidas no tempo, as primeiras peregrinações buscavam nas finisterras ibéricas o ensinamento dos mestres que tinham vindo do mar, transmitido por núcleos de ensino instalados nos cabos ou na sua zona de influência. E assim se foi estabelecendo, sobre os demais, um caminho síntese, assinalado, em baixo, por forças telúricas e demarcado, em cima, pelas estrelas.
Um Caminho totalmente pagão que, muito mais tarde, a Igreja Católica triunfante, constatando a impossibilidade de o destruir, cristianizou com o nome do apóstolo Santiago.

                                                  ***

A Ibéria desempenhou, assim, um papel de charneira ou de ponte entre mundos, por onde passou a luz da civilização, ou o brilho da consciência humana, de Ocidente para Oriente, marcando o início da História. Ou de uma nova História.
Mas naquele distante berço oriental persistiu a recordação de uma terra mágica, no Ocidente, onde antes haviam chegado os primeiros mestres. E essa terra tornou-se na meta sonhada para a qual, um dia, se dirigiriam, novamente, os vivos e os mortos. Os vivos e os mortos porque o trajeto de volta ao Ocidente, apesar de ser traçado na superfície da Terra, dizia, sobretudo, respeito às almas, ou melhor, às chispas divinas ou mónadas que deveriam reencarnar ao longo desse percurso, que assim se tornava essencialmente espiritual. Por isso, a grande maioria dos túmulos egípcios e mesopotâmicos se encontram voltados para o Ocidente.
O eminente teósofo brasileiro Henrique José de Souza, em cuja obra se fundamenta a atual Eubiose, dá o nome de Itinerário de Osíris (ou IO) àquele percurso de consciência que imita o itinerário do Sol, nascendo a Oriente e pondo-se a Ocidente.
Atualmente, parece admissível que o ponto focal da consciência em marcha pelo referido Itinerário se localize na Europa. Ora a Ibéria é a extremidade mais ocidental da Europa e, portanto, de novo com um papel fundamental no processo: o mesmo papel de charneira anterior, mas agora ao contrário, determinando a passagem da Europa para o continente americano. Por isso, Henrique José de Souza afirma que na Ibéria se encontra o “arquivo espiritual" da humanidade, constituindo a pauta por onde se deverá reger esta nossa cultura ou civilização.
Para ter acesso ao conteúdo desse Arquivo, como uma espécie de ADN civilizacional, existem vários processos, ou caminhos que a ele conduzem. Um deles será, seguramente, o Caminho de Santiago.

ELEVAÇÃO
Atravessando a Ibéria como uma síntese do Itinerário maior de Osíris, ou do Sol, o Caminho (de consciência) de Santiago poderá, assim, proporcionar uma recapitulação de todas as etapas daquele outro Itinerário e lançar o peregrino para diante... Divide-se em dois trajetos fundamentais: o primeiro, partindo de várias origens, leva à catedral de Compostela, onde se encontra o suposto túmulo do Apóstolo Santiago – é o caminho do encontro de cada um consigo mesmo e da consequente transformação. O segundo, parte de Santiago e termina no cabo Finisterra – é o caminho da transcendência, em que cada um, identificado consigo próprio e transformado pelo que experimentou, se supera a si mesmo e avança, decididamente, para a metástase com as estrelas.
Ali, no cabo do fim do mundo, poderá surgir o impulso definitivo para a elevação interior, lançando o peregrino ao encontro das estrelas da Via Láctea, que sempre lhe serviram de teto... Mas no final da via Láctea, encontra-se a constelação do Cruzeiro do Sul que se apresenta, assim, como o culminar glorioso do Caminho das Estrelas e dos seus mistérios. Fecho e continuidade, em simultâneo, ou um final que se funde num outro início, como um cais que tanto é de chegadas como de partidas...
Ao mencionarmos o Cruzeiro do Sul, teremos também que falar do hemisfério sul, onde somente aquela constelação é visível, e do Brasil, onde Henrique José de Souza diz que termina, igualmente, o Itinerário de Osíris. Por esse motivo acrescenta Agostinho da Silva que "um companheiro deve Portugal ter no duro caminho que terá que trilhar e esse companheiro se chama Brasil"...
Mas ainda no que respeita à tradição do Caminho de Santiago, é fundamental assinalar que os sapatos utilizados pelo peregrino para percorrer toda a extensão do caminho, costumam ficar em Finisterra, onde, inclusive, existe um forno próprio para os queimar.
Simplesmente, porque, a partir daí, o caminho deixa de ser pelo chão...

PARTIR
Muitos filósofos e guias espirituais, como Jiddu Krishnamurti, avisam que o coração do homem moderno se encontra atrofiado e paralisado pelo pensamento que, ainda por cima, não é dele ...
O Caminho de Santiago poderá ser um meio eficaz de queimar todo esse pensamento a mais que trazemos dentro de nós, juntamente com os sapatos. Desse modo, será também o Caminho das Novas Descobertas, no sentido interno e espiritual que lhe atribuía Fernando Pessoa. Por isso, quem caminha com esse propósito terá o direito de reclamar para si o sentido da frase gloriosa dos navegadores portugueses que partiam em busca de novos horizontes: “Navegar é preciso! Viver não é preciso! ”.
Na verdade, viver uma vida de doméstica escuridão, aprisionada às ideias e aos objetivos que outros nos inculcaram, será viver? ... E, com a legítima obsessão de sermos livres, não teremos caído na mais tenebrosa escravidão, permanecendo encarcerados pela própria ideia de liberdade que nos foi servida?...

Decididamente, viver assim não é preciso! E essa constatação é redentora, fazendo-nos partir rumo à Finisterra das nossas vidas e ao encontro do sonho que nos diziam que não existia... Desse modo, poderemos retomar aquela frase dos descobridores de mundos expressa deste outro modo: “Viver não é preciso! O que é preciso é caminhar! ”
Caminhar significa romper o status em que vivemos, terminando de vez com todos os controles forâneos. Ao fazê-lo, estaremos, também, a honrar todos aqueles que, como o galego Prisciliano, igualmente o ousaram romper. Tenhamos sempre presente a sua pretensão de regressar à pureza dos ensinamentos de Jesus, tomada como uma afronta pela Igreja nascente que o perseguiu, torturou e que acabou por lhe cortar a cabeça.
No nosso tempo, a ousadia de pretendermos chegar a uma transformação e superação de nós mesmos, através do Caminho de Santiago, também nos deverá custar a cabeça. Não às mãos do carrasco, mas às nossas próprias e com a espada de Santiago, pois essa é a sua verdadeira e única função.
 Isto é, se não tomarmos aquela espada e com ela fizermos rolar as nossas cabeças, programadas por séculos de educação judaico-cristã e formatadas pelo poder social controlador, não adianta percorrer o Caminho, pois tudo será em vão. Recordemos: Viver não é preciso! Caminhar é preciso!


Salve Prisciliano, morituri te salutant!